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Adriana Varejão |
- Zbigniew Herbert -
Guardar o amargo,
a amargura, não.
Depurar o sangramento
com os filtros da memória
e um vigor contínuo,
além do limite dos alfabetos.
Incorporar o exercício
de cordas,
laços e nós
inextricáveis
como verbos viciados
envenenando a corrente sanguínea
até o último comando do corpo.
Um olhar impuro
há de separar
as partículas quânticas do insuportável
de frases feitas para matar.
Lenta conversão
proporcionalmente inversa ao apagamento instantâneo
de paisagens, pontes, sonhos
(ou daquilo que nomeamos realidade).
Guardar o amargo
como cartas na manga
para as manhãs de setembro.
A amargura, não;
excesso de carga cinzenta
tinge de mágoa a pele de qualquer caminho.