A VINGANÇA DOS PERSAS
O que esperamos na ágora reunidos?
- Konstantinos Kaváfis
Vão-se os navios gregos
abarrotados de moedas cunhadas
nas saias de Medeias mortas.
Tebas, Atenas, Corinto,
estiradas em mesas de cassinos,
fecharam as sete portas de bronze.
Agora shoppings agonizam
Agamenons e Ariadnes.
Padece a paideia no labirinto
de novos persas.
Ifigênia e Ajax em transe,
Homero arremessa o escudo de Aquiles
contra os bancos de extermínio,
de sangue,
de crime.
Nem Diotima de Mantineia sonharia
revelar a Sócrates profecias de tamanha barbárie.
Helicópteros patrulham Micenas,
e Midas já mandou as suas milícias
de cães e répteis contra Hércules.
Efebos deserdam fábulas,
lanças caídas em filas de desemprego,
elmos abandonados,
cavalos cravados de facas e cifrões.
Édipo, Orestes e Jocasta
veem Jasão navegar para o abismo.
Já não há Atlântida
e as muralhas da honra e da ousadia
desmoronaram em dívidas.
Oh, Zeus, insufla a revolta nos lares,
ateia fogo aos tesouros,
destrona a cabeça dos soberanos
cínicos e carniceiros.
Que heróis anônimos tomem as ruas de assalto
e que das assembleias surja o sonho de cidades livres.