
O nihilismo para o alto, um oxímoro, mas preciso flutuar. Não é minha deriva, embora tenha manchado a minha camisa e a curva do meu caminho. Mantenho a palavra com agá para ampliar a remissão ao nada. Na verdade, afundo para outros lados, talvez para cima. O nihilismo foi filosofia, hoje estampa camisetas, nobilita currículos, edulcora mercadorias e entrevistas de celebridades. Enfim, a codificação de zumbis, Nietzsche em versículos para epifanias inalcançáveis. O lugar para onde se vai sempre será o sem nome, pois inominável é qualquer horizonte, caso tal linha/fronteira ilógica exista. Meus tênis não suportam mais buscas originárias nem jornadas teleológicas.
Do quiasmo onde me engasgo em simetrias temporais (hoje é ontem : ontem é amanhã), desse eco onde me fundo, me perco e me projeto, vejo no anátema do pensamento uma coleção de fraturas abertas: necessário desossar a filosofia, expor a mudez dos fragmentos, desnudar as formas do provisório, explodir o chão dos aforismos. Ideias que se lancem além do nível da frase e teçam a teia da complexidade mais insana.
O super-homem trabalha como laranja para as grandes corporações. Se não há humanidade, não existe humano muito menos super-humano. A humanidade é tudo aquilo que abandonamos, os sonhos que perdemos, acumulados num projeto de irrealização, a progressiva desertificação do ser.
Por todo lado o novo começa por suas próprias cinzas. O homem-prótese nos assombra com o paraíso: beleza, saúde, inteligência, força. Nos diz, a pleno pulmões: - Todos os discursos morreram, apenas as palavras em pura enteléquia greco-clitoriana flutuam no mar aberto; como não podem se afundar nem se salvar, piscam os olhos para nós, maldosas, implorando modelo, teoria, poesia, corpo de linguagem.