sábado, 30 de novembro de 2013
As películas protetoras
casca de besouro
couro de jacaré
asa de morcego
colete à prova
de balas
más caras
pele óleo S.A.
biombo de bambu
bomba
de efeito fatal
o ranço da segurança
casa/mata
carro blindado
urutu
nau capitânia
caveirão
detector de presença
navio negreiro
sorria para
câmeras de intolerância
panzer
blitz
helicopterus rex
abrigo subterrâneo
para o cofre
o cofre
todos dentro do cofre
o cofre
todos os corpos
moedas
em caixa-forte
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Narrativa a caminho da queda
![]() |
Iberê Camargo |
a.2
antes dos degraus a
porta caía aos pedaços tábuas como remendos inúteis qualquer bêbado a abriria
só com o hálito de álcool em madrugada morta mas uma tarde dois fugitivos subiram
o gólgota ombros e braços musculosos carregavam a bicicleta roubada por trás
dos raios das rodas rodava uma miragem de cabelos negros e pequenas sardas as
formas incabíveis em vestido gelo de folhas verde limão era a insônia era a
luxúria era a loucura subindo as escadas era meu coração rangendo à passagem de
tempestade de carne era um mocassim caramelo pisando as dobras do gozo em
lençóis lavados de solidão a maldade despontava no sorriso como pura promessa
de ruínas um casal principiava então a costurar abismos em que os aprisionava
no pânico do olhar
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Órion desoriente
para que caiam novos
gêneses
como dentes com cárie
caindo
podres de apocalipse
e raios
partam paradigmas
aos pedaços
juízos teóricos divinos
para que palavras
bastilhem
pilhas de axiomas
matilhas
de sintaxe e sofisma
em preceitos
bordelizados
a intimidades e compadrio
barimetria
e guilhotina
ao excesso
de logomaquia
teoliterária
no céu de cães
canônicos
Anarquipélago
Meu livro de poemas Anarquipélago já está disponível para venda nas Livrarias Cultura e Travessa virtuais (R$ 30,00). Pedidos também podem ser feitos à editora Ibis Libris -http://www.ibislibris.net/site/
Não percam o lançamento na próxima terça-feira,
03/12/2013
Livraria da Travessa - CENTRO
Narrativa a caminho da queda
a.1
48 degraus rangiam pesadelos o peso dos pêndulos tiquetaqueavam horas em fendas as paredes de pinturas superpostas como camadas de tragédias de eras glaciais nós mesmos em outras estações inabitáveis temporais todos os cômodos mofados da casa em cacos nos pés descalços pois era assim a nossa dança o nosso olhar ainda não contaminado do bafio rançoso a emanar das tábuas do assoalho balaústre parapeito portas de duas bandas trincos destinos aferrolhados nada apontava os grilhões grisalhos mas tudo já estava posto na mesa do filho do amoníaco e do carbono podia ser entrevisto na fumaça da cannabis sativa madrugada a fora vejo agora dentro do riso e do sol nascente ácaros e fungos tecendo o pântano na alma
48 degraus rangiam pesadelos o peso dos pêndulos tiquetaqueavam horas em fendas as paredes de pinturas superpostas como camadas de tragédias de eras glaciais nós mesmos em outras estações inabitáveis temporais todos os cômodos mofados da casa em cacos nos pés descalços pois era assim a nossa dança o nosso olhar ainda não contaminado do bafio rançoso a emanar das tábuas do assoalho balaústre parapeito portas de duas bandas trincos destinos aferrolhados nada apontava os grilhões grisalhos mas tudo já estava posto na mesa do filho do amoníaco e do carbono podia ser entrevisto na fumaça da cannabis sativa madrugada a fora vejo agora dentro do riso e do sol nascente ácaros e fungos tecendo o pântano na alma
Estudo para futuro romance
Tangências
– pequenos desgarrados que amassamos tanto o mesmo barro.
Artur. Claro, nome falso. Para nós o Tatu, por razões que não me lembro. Melhor talvez fosse Touro, aquele corpaço hipopótamo. Sempre as mãos no lixo, os olhos revirando fundo restos, frutas estragadas, pães mofados, sonhos fora do prazo de validade, côdeas de desamparo. A família, sempre um câncer no calendário de visitas. Um dia, um muro, nunca mais o Tatu roendo ossos.
Moreira. Cobrir. Firme. Descansar. A santa trindade da obediência deixava marcas em seu pescoço branco avermelhado. Tanta disciplina precisava de estocadas no braço, olhos arroxeados, galos na testa, joelhos no milho. Dia houve em que uma surra de fio ensandeceria a escola, centenas de meninos alucinados tentando linchar o marinheiro mascarado de inspetor após expulsão da Marinha.
Gláucio. De Copacabana para nosso espanto, nós de Gramacho Vigário Geral Parada Angélica Engenheiro Pedreira Ricardo de Albuquerque Pavuna e adjacências. Filho de gravuras dos livros de História, já nascera com punhal nos olhos e com esperança ulcerada. Podíamos ver as pedras que guardava nos olhos, a pele cor de ressentimento, os cabelos de pregos e cacos de vidro. Aproximar-se era convite a duelo. Como num conto de Aníbal Machado, o menino-guerreiro sumiu no vento.
Papai Noel. Menino-bibelô largado sem babás no deserto. Olhinhos verdes em meio a tantos olhos famintos. Coxas de menina. Corpo agoniado por se saber em pesados sonhos infanto-juvenis. O postal de miss na hora da punheta. Dentes mais luminosos do que o sol, uma alegria misteriosa, inexplicável que o protegia de todo o mal ao redor.
Cocada. Anos sem visita. As férias só não o mantinham em solitária por causa de tantos outros largados como ele. Nosso líder na abertura de cadeados, assaltos à despensa, comida extra. O chefe da nossa gangue logo desgarrado em voo solo. Carteiras alheias em mãos frágeis, bolsas estudadas com método e rigor, objetos valiosos recolhidos para análise. Expulso com toda a pompa: a escola perfilada para exemplo e dor.
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Exportar é o que importa
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
domingo, 24 de novembro de 2013
O desequilibrista
o desequilibrista subiu ao palco
os aplausos estrugiram na
plateia
ovacionando o estupendo
artista
o desequilibrista começou
o número
era a caminhada entre a
vida e a morte
passagem pelas torturas e
expectativas
a fuga alucinada entre o
piso em brasa
a plateia não se continha
e aplaudia
a ponto de não se
entender mais nada
quando o desequilibrista
falseou o pé
e a ponta de uma lança
mortalmente afiada
estropiou-lhe a perna a
plateia silenciou
num instante começaram a
vaiar e xingar
não satisfeitos os
assistentes se levantaram
invadiram o palco
destruíram o cenário
e lincharam o
desequilibrista incapaz
Baía das lobas marinhas
Punção
![]() |
“Paisagem em azul”, tríptico de 1966, Antonio Bandeira |
Este poema foi publicado na revista Desafio, nov/1977.
estranhas paisagens
tecem sinfonias
na pele do país
navios fantasmas
singram insônias
na pele do país
viúvas enlouquecidas
cantam amores perdidos
na pele do país
celerados insolentes
semeiam medo
na pele do país
corpos deserdados
dormem abandono
na pele do país
poetas carbonários
incendeiam palavras
na pele do país
flores alucinógenas
amadurecem perfumes
na pele do país
pássaros peregrinos
desinventam harmonias
na pele do país
arquitetos da aridez
desesperam auroras
na pele do país
cinéreas crianças
esparzem tragédias
na pele do país
estrelas instáveis
varrem madrugadas
na pele do país
carícias atrevidas
incrustam cimitarras
na pele do país
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Assinar:
Postagens (Atom)
loading..