terça-feira, 31 de dezembro de 2013
Galeria Ano Novo: versão limitada
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Poema em Mallarmargens
Mais um poema em Mallarmargens - Revista de Poesia e Arte Contemporânea
http://www.mallarmargens.com/2013/12/cafe-xeque-mate.html
Dez romances que me assombraram em 2013
![]() |
British artist and illustrator Jonathan
Wolstenholme
|
Dez romances que me assombraram em 2013
1) Peste Palimpsesto – Hugo Olivetti – O narrador,
renomado historiador da Universidade de Praga, descobre num mosteiro sérvio
documentos antigos em linguagem desconhecida. Após ser vítima de diversas
tentativas de furto praticadas por outros grupos interessados nos palimpsestos,
deixa-os em mãos da jovem assistente Uli Staav, falsa finlandesa, na verdade um
traveco a serviço de sete grandes corporações. A equipe de estudiosos montada
para decifrar os documentos cria o primeiro cybersoviete da história. O mundo
passa por uma transformação assustadora. Para saber mais, leia o livro. Hugo
Olivetti é o mais talentoso romancista esloveno.
2) Rosácea – Janaína Hockmann – Shari Natanga é um
sábio budista respeitado em sua aldeia tailandesa. Entre preces, meditações,
kickbox e tiros à queima-roupa em pobres camponeses que não contribuem para sua
rentável vida de agiota, sonha viver em Las Vegas. Ao fugir de uma revolta maoista,
conhece Shing Tainaga em Bangcok. Eles se apaixonam após ela confundi-lo com
Nicolas Cage, ator responsável por Shing ter largado a plantação de arroz e ópio.
Paixão desfeita no aeroporto de Paris, depois que Shari Natanga começou a ler "À la recherche
du temps perdu”, fato que abalaria a sua vida para sempre. Rosácea foi
acusado de copiar o enredo de Os mamutes estão morrendo, de Sergei Kazóvski.
3) Expedição Madaglena – João Luís Petraglia. O
principal rio da Colômbia é o pano de fundo para um verdadeiro painel da
história colombiana, da colonização espanhola ao século XXI. Dividido em dez
partes, num ritmo caótico, elíptico, numa sintaxe por vezes inapreensível, a
narrativa toma de assalto o leitor. Notável o modo como o autor consegue
produzir uma obra experimental sem transformá-la na rigidez cerebral de alguns
constructos literários hodiernos. A violência sem estilização alia-se a uma
desencantada visão da condição humana. O autor encontra-se preso por seguidores
do ex-narcotraficante Álvaro Uribe.
4) Tudo que é insólito mancha o ar – Marcos Bezerra
Branco. Violentamente condenado pela crítica jamaicana, o romance parece ter
sido escrito para negar a ideia de romance. Retira trechos do livro de Marshall
Berman e de toda a literatura marxista, mistura com textos anarquistas e cria
uma história em que todos os personagens entram na porrada, são presos e mortos
pela ordem dominante mundial. Em alguns momentos mais desprezíveis parece até
literatura. O autor encontra-se preso por tentar comprar originais de
romancistas estreantes. Se for libertado, cuidado, o grupo Ecoanarchy jurou-o de morte..
5) Devastação – Lou Menezes Castro – Escrita do
corpo, vigorosa, perturbadora. Alguns psicólogos divulgaram manifesto
solicitando a retirada da obra do mercado. Talvez por isso entrou na lista dos
mais vendidos, o que é notável, dada à complexidade narrativa de estrutura
espiralada, toda concentrada na caminhada esquizofrênica de Lucas, o jovem protagonista, madrugada afora pelas ruas do Rio de Janeiro. Cenas da irrealidade
do cotidiano noturno. Pesado, lisérgico, pop e cult, quase irrespirável, tanto que o narrador abandona
o livro antes do final das 144 páginas.
6) Como eram complicados aqueles tempos em que você
andava de galochas – Tatiana Lewendosky – Tatiana Lewendosky é o segredo mais
bem guardado da literatura brasiliense. Depois do premiadíssimo ‘Chicote de
sombras”, do extraordinário “Deboche”, lança agora essa bem-humorada história
de uma mulher que não consegue o amor de nenhuma outra, mas nem por isso
desaba. Hilárias as situações em que se vê obrigada a fugir da gula de homens
tarados e pervertidos, chefes escrotos, babões apaixonados, galãs de feira-livre, taxistas de mão boba.
A autora, valendo-se de extensa rede de referências a grandes escritoras
contemporâneas, faz uma crítica demolidora à terra de ninguém dos
relacionamentos contemporâneos.
7) Cerca de bambu – Hao Sipiang – Os pais da autora passaram por poucas e boas
em um dos campos de reeducação da China à época de Mao. A filha transfigurou
tudo o que a sua impotência presenciou em rancor e ódio extraordinariamente
férteis. Como ficção é puro engodo, transformou os pais, que antes açoitavam os
empregados e roubavam no peso e no salário, em santos. Os delírios narrativos
de Hao Sipiang, no entanto, são impagáveis, apesar de uma fundação
norte-americana ter providenciado a sua ida para os States, além de bancar a
publicação e divulgação de seus romances, traduzidos em 117 línguas. “A cerca
de bambu” é uma bela metáfora, traduz com extremo requinte o espírito dos
habitantes de Alphaville, pobres e camponeses não entram sequer em narrativas a
não ser como bandidos. Uma obra-prima.
6) El gusano – Pablo Ruiz Contreras – Um homem acorda cedo para ir jogar xadrez em
uma praça de Havana. Pensa em preparar o matinal café com rum. Pensa em abrir
uma delicatessen graças às novas medidas econômicas. Pensa em escrever o
milésimo poema em homenagem a Che Guevara. Ao tentar se erguer, cai sobre um
disco de Paco de Lucia. Sempre revolucionário, tenta motivar-se. Sonha com New
York, precisa ver como Moloch funciona, a pútrida face do capital. Precisa de
Rubia, precisa que volte. E toda a narrativa é a narrativa do que falta, do que
não vem, o inenarrável. Pablo Ruiz Contreras lutou em Angola contra as tropas
da África do Sul. Atualmente encontra-se internado em estado terminal.
9) Embromation – Phellippe Deschamps – Pelo título
dá para perceber que é obra de algum filósofo francês. Deschamps é conhecido
por demolir obras, reputações, teorias, religiões, ideologias. Dizem os
inúmeros desafetos que demoliu a própria mãe, a mulher e os filhos, tudo por
dez segundos no Canal Plus. A genialidade do autor, no entanto, o mantém em
evidência há duas décadas. Nesta primeira incursão ao romance, que Deschamps
afirma ter elaborado valendo de um programa de computador denominado Mot.zéro,
cabe ao leitor tentar reconfigurar a
linguagem. O autor afirmou em entrevista ao Le Monde que este livro remove de vez
o legado proustiano.
10) Bordel Capitu – Bento Machado – Ultra-além-depois-pós-doutor
em teoria literária, Bento Machado é reconhecido internacionalmente o maior
especialista em Machado de Assis. Agora, depois de tantos trabalhos renomados,
lembrem-se de Assimetrias parentéticas entre zeugmas ciceronianas e axiomas axilares
em personagens femininas de Machado de Assis. A narrativa apresenta velhinhos
acadêmicos depois do chá das cinco transplantados para um dos mais famosos bordéis do Catete.
Entre infartos, recitações de versos anacrônicos, impressões de leitura, furtos
de cartões de crédito, frequentadores rejeitados pela Academia, banqueiros de
bicho etc., avulta a figura de Capitu, cento vinte quilos de sabedoria e
pragmatismo: metáfora do povo brasileiro, como afirmou o autor na última FLIP. O estilo lembra muito
a escrita impressionista de Adelino de Magalhães, um romancista que ninguém
mais lê. Embora também seja verdade que ninguém mais lê porra nenhuma.
domingo, 29 de dezembro de 2013
Km 2014
![]() |
"Monsieur Courbet's Good Days", 1970, trabalho de Marcel Mariënm |
des
ar
mar
errar
o alvo
zerar
o giro
do tambor
em cubos
de gelo
gerar
o novo
arrancá-lo
com pinças
de vísceras extintas
em páginas sem risco
ar-
riscar-se
reinventar-se
inédito
paradoxo impresso
em tantos corpos
impura
ilegibilidade
sempre
a mesma gênese
nunca
os mesmos termos
ar
mar
errar
o alvo
zerar
o giro
do tambor
em cubos
de gelo
gerar
o novo
arrancá-lo
com pinças
de vísceras extintas
em páginas sem risco
ar-
riscar-se
reinventar-se
inédito
paradoxo impresso
em tantos corpos
impura
ilegibilidade
sempre
a mesma gênese
nunca
os mesmos termos
sábado, 28 de dezembro de 2013
Ânua
Em nenhum momento
doze meses urgência
adentro
o tempo
usa spray
para marcar
passagem
Entre o que veio
e o que virá
já não alcançamos
cidades de ouro
tudo se fecha
estreita-se a estrada
em fenda
feracíssima
fenda
não mais
pássaro
no céu em curto
já não pode
alongar
o canto
decanta
refulgência
em estado de
graça
mancha
o azul e o âmbar
de asas alheias
mês a mês
poemas na mesa
até a passagem
da palavra
a pássaro
e pássaro
é tudo
que se dissolve
no espaço
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
domingo, 22 de dezembro de 2013
sábado, 21 de dezembro de 2013
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
terça-feira, 17 de dezembro de 2013
Cortejo
![]() |
Foto de Arthur Tress, 1974 |
quatro skatistas
conduziam um caixão
com faixas amarelas
símbolos de facção
criminosa
coroas de flores
vermelhas
abertas
na contramão
dava para se ouvir
a estranha cantiga
dos skatistas
palavras incompreensíveis
quando os veículos
buzinavam
os automóveis não paravam
coração com pé no acelera
dor
motor V8 de 570cv
potência de anjo aniquilador
atropelava a canção lutuosa
os skatistas
travavam o rosto
com máscaras fúnebres
de gaze e bronze
e deslizavam o livro dos mortos
egípcio
nas ruas devastadas
da metrópole tropical
Por que nossas vidas não são guarda-volumes (poemeto lírico ao vinagre)
a.4
a.4
capas de discos de
vinil ainda no chão sacados à noite lançados como discos-voadores negros pela
janela arremessos portentosos repletos de álcool era lindo de se ver a heroica
de Beethoven voar Karajan abaixo Mussorgski pictures at
an exhibition supersônico no ar noturno espatifar-se Chopin
prelúdios para piano na madrugada morta Parsifal wagneriano a lança na ferida
de Amfortas quebrada em queda livre naquele momento era impossível saber que o
santo graal subiria escadas coberto parcialmente por rodas de bicicleta
provavelmente roubada o corpo todo era o cálice profanado o cálice que beberia
os lábios devoraria o viço da carne em tensão máxima o desejo quase tocando o forro
de madeira do teto sobre vinil intacto de Nora Ney um poema guardava momento
anterior à loucura que trouxera a polícia à porta no meio da noite versos
truncados incompletos incapazes de poesia ensaiavam última estrofe: “acordam na
ópera acordes inaudíveis / neles a massa sonora se desmancha / para que a voz
ressoe solo e vírus / na ária, lacerada a carne gangrenada / a garganta os
pulmões os ossos / no chão sem sinal de harmonia” rasura premonitória da
impossibilidade de coro
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
A caminho
A caminho
-1
mais à frente,
o Letes,
próximo ou distante
o som amargo
de águas lúgubres
flutua
o caminho
o tempo
atravessa atalhos
com a velocidade da luz
-2
retardo os passos
piso
pequeno demônio
repiso em vão
nunca a eudaimonia
já não vingam
vestígios
da alétheia
vislumbrada
em alguma curva
fechada
domingo, 15 de dezembro de 2013
sábado, 14 de dezembro de 2013
Migração noturna
![]() |
Pintura de Dulce Osinski |
O que se abre
quando os olhos
se fecham
areal
um areal
pré-deserto
pois é água
a memória que ainda
escoa em sulcos
atrás de
palmeiras de plástico
úlceras de
sombras alongadas
na tábua de
passar roupa
atrás de vagos
vultos
um sol devasta
o sinteco de
tacos gastos
câncer de pele
o horizonte
lançando ameaças
saarianas
quando mais
fechados
estão os olhos
carcaças jogadas
no ocaso
então
surge música
em caravana
surge você
e seu cortejo de
eunucos
e machos
e passa
passa
por cima dos
meus olhos
fechados
bem fechados
para não ver
a caravana de
carros
no meio da avenida
e você
minha tempestade
de areia
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