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Al Farrow, Casket Reliquary III (Foot of Santo
Guerro), 2011, Bullets, shell casings, steel, wood, glass, bone, lock, antique
velvet,
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Feito à imagem e
semelhança
do inalcançável
o homem mata
por prazer,
por engano,
por encomenda.
Às vezes mata
para testar a
arma,
a perícia,
o calibre,
os limites
do tédio
ou da pontaria.
Matar é fácil,
tranquilo,
confere poder
e prestígio.
Alguns fazem
fortuna,
outros gravam
riscos em pistola.
Sempre houve aqueles
que viraram estátuas.
Mata-se por nada,
porque alguém
não gostou
de uma certa
camisa azul,
de um perfume
adocicado,
de um tom de voz
desagradável,
ou porque
vizinhos festejam
o quinto aniversário
de uma menina.
Também se mata
um vulto furtivo no escuro.
Mata-se por
passatempo,
por verdades e
inverdades,
por vastas
propriedades,
por falta ou
excesso de grana,
por erro de
cálculo ou informação falsa.
Alguns matam com
alegria.
Observe, amigo,
aquele homem sereno
comendo pipoca.
O ar tranquilo,
óculos de
mestre,
orelhas de
judoca.
Pois acredite,
matou a cara
metade
meia hora atrás,
entrou na fila
do cinema;
meia-entrada
para comédia romântica.
A consciência? Pura
leveza bailarina.
Feito à imagem e
semelhança
do inalcançável
o homem mata
por intolerância,
por impotência,
por cega
obediência.
Secos acordes
de compaixão
ecoam na cidade
crivada de corpos:
piedosos tiros
de misericórdia.