quinta-feira, 8 de setembro de 2011

POEMA DA PARTIDA



      José Antônio Cavalcanti

Cais não sou.
Em mim amarras
não formam amálgama
de amor e algas.
A lua de gala
de qualquer nave
são ânsias de ave
em corpo de âncoras.

Cais não sou,
antes calado.
Em mim palavras
passeiam descabeladas;
o vento no ouvido
e nas camisolas
sopra no porto
e em  portas descascadas.
O eco encardido
assobia  partidas.

Cais não sou,
antes o sulco
do lado oposto do casco,
o risco de ser exposto
ao abismo das conchas.
A pressa das velas
desaba o horizonte.
Despovoado,  o porto
deserda chegadas.
O amor a léguas
naufraga em águas invisíveis
em mar de mágoas.


Cais não sou.
sequer cantor.
Giro o leme em direção incerta,
pinto o vento de azul
e afundo o meu desencanto
na maré de escombros.

Sou o zelador de abismos.

6 comentários:

  1. Belo poema e que reflexão! Se não é "cais"... o porto seguro, no entanto é "zelador de abismos"... Posso concluir o quanto de vida realmente vivida tem uma pessoa assim! Parabéns! Abraço, Célia.

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  2. Belíssimo!

    O zelador do abismo deu uma aula, por mão ser cais.

    Beijos

    Mirze

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  3. muito bonito, Monique. Uma jóia bem lapidada. Parabéns.

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  4. Lindo!Expressa muita vida, sofrida, vivida, partida. Parabéns!

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  5. Ao porto das palavras férteis

    Cheguei a esse porto,
    e atraquei aqui
    e, se mais não vi,
    foi porque não fui
    por caminho torto.
    E, se não é cais,
    descanso o corpo.
    E se não há paz,
    há o som do vento.
    Se não é lamento,
    acalma meus ais.
    (Feito para o blogue do José Antônio - em 11-09-2011)
    Nem tudo é caos, afinal, nesse 11 de setembro. Parabéns! Eu acho que aqui é cais, sim. Voltarei a atracar minhas caravelas.
    Eliane F.C.Lima (http://poemavida.blogspot.com)

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  6. Muito obrigado aos que postaram algum comentário no blog. Às vezes a palavra que nos devasta é mesma que nos salva. É bom ouvir, escutar, ser tocado por outras vozes, principalmente quando habitamos o deserto. Não somos cais, somos apenas navegantes, mas ninguém é de ferro. Há que se encontrar abrigo no meio da tempestade e um salão de tangências para se receber os amigos que nunca vimos mas que sabemos presentes em nossas vidas porque são capazes de compartilhar sonhos e abismos de outras latitudes, mas com a mesma intensidade.

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