José Antônio Cavalcanti
Cais não sou.
Em mim amarras
não formam amálgama
de amor e algas.
A lua de gala
de qualquer nave
são ânsias de ave
em corpo de âncoras.
Cais não sou,
antes calado.
Em mim palavras
passeiam descabeladas;
o vento no ouvido
e nas camisolas
sopra no porto
e em portas descascadas.
O eco encardido
assobia partidas.
Cais não sou,
antes o sulco
do lado oposto do casco,
o risco de ser exposto
ao abismo das conchas.
A pressa das velas
desaba o horizonte.
Despovoado, o porto
deserda chegadas.
O amor a léguas
naufraga em águas invisíveis
em mar de mágoas.
Cais não sou.
sequer cantor.
Giro o leme em direção incerta,
pinto o vento de azul
e afundo o meu desencanto
na maré de escombros.
Sou o zelador de abismos.
Belo poema e que reflexão! Se não é "cais"... o porto seguro, no entanto é "zelador de abismos"... Posso concluir o quanto de vida realmente vivida tem uma pessoa assim! Parabéns! Abraço, Célia.
ResponderExcluirBelíssimo!
ResponderExcluirO zelador do abismo deu uma aula, por mão ser cais.
Beijos
Mirze
muito bonito, Monique. Uma jóia bem lapidada. Parabéns.
ResponderExcluirLindo!Expressa muita vida, sofrida, vivida, partida. Parabéns!
ResponderExcluirAo porto das palavras férteis
ResponderExcluirCheguei a esse porto,
e atraquei aqui
e, se mais não vi,
foi porque não fui
por caminho torto.
E, se não é cais,
descanso o corpo.
E se não há paz,
há o som do vento.
Se não é lamento,
acalma meus ais.
(Feito para o blogue do José Antônio - em 11-09-2011)
Nem tudo é caos, afinal, nesse 11 de setembro. Parabéns! Eu acho que aqui é cais, sim. Voltarei a atracar minhas caravelas.
Eliane F.C.Lima (http://poemavida.blogspot.com)
Muito obrigado aos que postaram algum comentário no blog. Às vezes a palavra que nos devasta é mesma que nos salva. É bom ouvir, escutar, ser tocado por outras vozes, principalmente quando habitamos o deserto. Não somos cais, somos apenas navegantes, mas ninguém é de ferro. Há que se encontrar abrigo no meio da tempestade e um salão de tangências para se receber os amigos que nunca vimos mas que sabemos presentes em nossas vidas porque são capazes de compartilhar sonhos e abismos de outras latitudes, mas com a mesma intensidade.
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