segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Bagagem impura

Adriana Varejão



 
 
 
 
 
 
        
 
               "beber o extrato de ervas amargas
             mas não até o fim
             guardar por precaução
             algumas gotas para o porvir"
                      - Zbigniew Herbert -

Guardar o amargo,
a amargura, não.

Depurar o sangramento
com os filtros da memória
e um vigor contínuo,
além do limite dos alfabetos.

Incorporar o exercício
de cordas,
laços e nós
inextricáveis
como verbos viciados
envenenando a corrente sanguínea
até o último comando do corpo.

Um olhar impuro
há de separar
as partículas quânticas do insuportável
de frases feitas para matar.

Lenta conversão
proporcionalmente inversa ao apagamento instantâneo
de paisagens, pontes, sonhos
(ou daquilo que nomeamos realidade).

Guardar o amargo
como cartas na manga
para as manhãs de setembro.
A amargura, não;
excesso de carga cinzenta
tinge de mágoa a pele de qualquer caminho.

5 comentários:

  1. Olá, poeta! ..."Guardar o amargo... a amargura, não!" Que o seu 2012 venha com o tempero certo para que possamos saborear seus ensinamentos!
    Abraço da Célia.

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  2. Obrigado,Célia. Que 2012 seja um ano maravilhoso para você!
    Um grande abraço.

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  3. Oi,
    Concordo com você, já que o Alvaro Moreyra era meio radical.
    Nem sempre se pode excluir o amargo,afinal também é um temperinho.
    Feliz 2012, parabéns pelo blog

    Thereza Pires

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  4. Mesmo que a gente lute, a amargura é que guarda a gente. Meus passos já vão deixando pegadas no cinza do caminho. Que 2012 torne mais clara essa pele!
    Eliane F.C.Lima (ex-equipe de Português do Pedro II - blogue Poema Vivo)

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  5. Zbigniew Herbert é um poeta e tanto, e seu poema é ótimo e realista, dentro do possível.
    Meu blog de poemas chama-se Inscrições, e o endereço é
    http://inscries.blogspot.com

    Abraço.

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