quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Não hai nem kai III















I

Outrora calipso,
agora memória em lapso,
colapso das horas.


II

Orgulho do gládio,
onde se fixa florescem
gala, gozo e gáudio.


III

Água no quintal.
Ontem a chuva caiu
em cama deserta.


IV

Café da manhã;
mel, pássaros, solidão
e um talvez na porta.


V

Doar-se, doer-se,
danar-se, cão condenado
a não se dizer.


VI

Morri de seus olhos,
de você pela metade
em outra lacuna.


VII

Janela nublada
fecha cortina grená
à melancolia.


VIII

Resíduo inócuo,
junco jogado no barro
de corpo insalubre.


IX

Um sol tangerina
faca de brasas em casca
corta gomo a gomo.


X

Um haicai balança
mas não cai. O bom malandro
não cai de cabeça.


XI

De gala o azul
no céu, anjos e azulejos
amanhecem luz.


XII

Na campina um cão
acende folhas e ventos:
farol nas narinas.


XIII

Acesa a palavra
mais áspera, buscar água
de apagar eclipses.


XIV

Fora de controle
o amor, vestido ao avesso
no corpo que explode.


XV

Soltar o verbo,
os cachorros, os demônios,
voar na língua solta.


XVI

Lágrimas e gritos,
esgrima contra o espanto
mínimo espantalho.


XVII

Pronome - clones
de nomes com carga oculta
no DNA da língua.


XVIII

Os, as, isso, aquilo,
não deixe a dêixis diluir
os mil e um sentidos.


XIX

Abrir um abraço
sobre teu corpo maduro
e fundar um mundo.


XX

A curva final
acesa. Um desenho ainda
sonha na prancheta.


XXI

Talvez amanhã,
agora, quase, nunca,
o amor, a aurora.






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