quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A morte quer me adicionar à sua lista de amigos






















A morte se aproxima
como a mulher do próximo
num paroxismo de carne apodrecida
e córneas caídas das órbitas.

Já lhe disse ao celular:
tenho células avessas a vadias vesgas,
não tenho onde cair morto,
moro entre nômades no ar.

Sem vergonha, a Marilyn Me Rói
decadente nega as flores
com um rifle potente
puta porque eu não quis
chamá-la de Leila Diniz.

Me atinge como onda asquerosa
o hálito de esgoto da Coca-cola letal
nos lábios lacerados pelo sol de Kandahar.
(Afirmam anônimos especialistas:
- A morte foi patenteada pelo Pentágono).

Já vejo o livro dos mortos
abertos na letra J.
(Idiota, há muito mudei o meu nome
para o alfabeto inca-venusiano).

Venha, madona das más notícias.
Vamos dançar um samba imortal.
Não vou rezar nem me arrepender de nada.
Recuso o Inferno e o Paraíso.
Beberei até o fim a água da vida.

4 comentários:

  1. Te leio sempre caladinha, mas agora não me contive, pelo poema, pelo tema que adoro, a Morte... Gostei muitíssimo. Sou amiga íntima da Morte, no topo da lista onde ela quer pôr teu nome...:-)
    Beijos,

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    1. Tânia, obrigado pela constância. Confesso que sempre evito cumprimentar a dama indesejável mas ela fica sempre plantada no meio do meu (nosso) caminho. Na verdade, todo o texto é projeção da sombra da morte. Ela poderia processar todos os autores, exigindo, no mínimo, coautoria. Não escrevemos para viver, a vida não cabe em nenhuma escrita; escrevemos na vã tentativa de que a morte vá para o outro lado da cidade e nos esqueça ainda que momentaneamente.

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  2. Taí o motivo de gostar e muito de te ler! Um poema que, de macabro, não tem nada! Realidade pura!..."Beberei até o fim a água da vida." Yes!
    Abraço, Célia.

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  3. Célia, que bom que você gostou. A morte é uma agulha com a qual tentamos costurar o caos da vida. Sempre nos assusta e angustia o caráter irremediável de seus trajes. Se é efetivamente assim, se nada podemos fazer, resta-nos apenas esgotar o máximo possível essa experiência única e maravilhosa que é a vida. Há duas posições possíveis para o nosso fim: morremos voltados para a própria morte ou morremos voltados para a vida. No entanto, não há fronteiras nem limites entre ambas.

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