Trabalho de Giacomo Costa - Aqua 8 |
Para Arnaut
Daniel e Luís de Camões
Em caminhos fora de mapas morro
buscando a flor do fado, o fogo, o fundo
de nomes impressos no papel negro
que rasuram o lado escuro da alma.
Derrota de navio fora de rota,
minhas mãos lançam âncoras ao nada.
Corpo de perdas, carne em poemas nada;
em mar curvo me movo, moro e morro.
Sombra na contramão, bússola e rota
jogam-me molusco e nulo no fundo
da província azul onde se afoga a alma
entre recifes, Nêmesis
e negro.
Barco do destino de porto negro
zarpa em segredo, agra viagem ao nada.
Mais furada que as sete velas, a alma
pulsa alucinada. Ainda
não morro,
mantém-me vivo o impulso de ir fundo.
Nauta intimorato, não fujo à rota.
Trajetória marinha atroz e rota,
mais um degredo que travessia em negro,
toca o túrgido terreno do fundo;
limite inflado e volátil do nada.
De fronteiras e de palavras morro
ao sabor de ondas e de assombros na alma.
Occitano mar ritmado, minha alma
vaza rubros verbos rasos na rota
das noites dissolutas em que morro.
Corro célere ao largo campo negro
onde as palavras se afundam no nada,
recolho meu corpo morto no fundo.
Mergulho e memória cantam, no fundo,
canção de Fênix no âmago da alma,
jogo de perda e conquista do nada.
Pura imposição ou inventada, a rota
risca vã deriva em abismo negro,
linha do destino que vivo e morro.
Por navegar, morro ao mirar no fundo
do mar mais negro, minha insubmissa alma,
sem normas sem rota, arrostar o Nada.
Só isso já me bastaria: mantém-me vivo o impulso de ir fundo... Mas houve muito mais. Intenso. De criar vertigens.
ResponderExcluirBeijos,