Era o meu
paraíso: o reino de notas frias, de cédulas falsas, de mulheres chaves de
cadeia, de minha subliteratura. A pequena funcionária tremia agarrada à mochila
coalhada de bótons de ícones pop. Ergueu o braço direito para se apoiar no
balcão. Vi as pulseiras girarem no punho como se descobrissem combinações do
cofre em que se ocultam pulsações assassinas. Um sentimento de júbilo
arrastou-me alguns passos em sua direção. Queria lamber a sensação de abandono
nas salas circulares de minha musa-manequim presas à língua acostumada à
cegueira de comandos, talvez pudesse retirar as agulhas fincadas no pergaminho
enrugado do rosto devastado por retroescavadeiras de lares desfeitos, descobrir
um mapa submerso de peixes entorpecidos à procura de águas vulcânicas, ricas em
nutrientes, coágulos, miomas. Pus as duas mãos sobre o material sintético que
ligava os ombros à cartilagem mecânica dos braços. O corpo parou de tremer.
Seus olhos instalaram um alfabeto estranho em meu destino.
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