quinta-feira, 4 de abril de 2013

Contaminatio





Era o meu paraíso: o reino de notas frias, de cédulas falsas, de mulheres chaves de cadeia, de minha subliteratura. A pequena funcionária tremia agarrada à mochila coalhada de bótons de ícones pop. Ergueu o braço direito para se apoiar no balcão. Vi as pulseiras girarem no punho como se descobrissem combinações do cofre em que se ocultam pulsações assassinas. Um sentimento de júbilo arrastou-me alguns passos em sua direção. Queria lamber a sensação de abandono nas salas circulares de minha musa-manequim presas à língua acostumada à cegueira de comandos, talvez pudesse retirar as agulhas fincadas no pergaminho enrugado do rosto devastado por retroescavadeiras de lares desfeitos, descobrir um mapa submerso de peixes entorpecidos à procura de águas vulcânicas, ricas em nutrientes, coágulos, miomas. Pus as duas mãos sobre o material sintético que ligava os ombros à cartilagem mecânica dos braços. O corpo parou de tremer. Seus olhos instalaram um alfabeto estranho em meu destino. 




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