Chamei os demônios do mar
para lavar o teu corpo
de algas e carne sem ar.
Vieram velozes, aos berros,
bêbados de espumas venenosas.
Trouxeram unguentos e rosas
de resina, úmidas de infortúnio.
Lavaram tuas barbatanas brancas
com bálsamo de abismo.
Despejaram águas lutuosas
nas cicatrizes do teu ventre,
entre os três filhos impossíveis.
Secaram o teu corpo com pedras
sacadas de secretas cidades submarinas.
Um demônio mais alto e hirsuto,
o hálito bem colado à tua carne morta,
ergueu pequeno frasco de
plástico.
Glauca, a última gota de licor incógnito
derramada no lodo de
teus olhos.
Estremeci vendo o movimento
de cortina aberta em tuas pálpebras.
A horda arremessou o corpo às ondas
envolto em tecidos de escamas.
Saíram aos berros, bêbados e velozes,
entoando canções de guerra.
Vivo até hoje perdido no cais
à procura de navio que me leve
ao ponto fora de qualquer mapa
onde teu corpo flutua, tesouro perdido,
mas ninguém ouve a minha história,
ninguém acredita na Ilha de Nunca Mais.
Chamei os demônios do mar
para lavar o teu corpo
de algas e carne sem ar.
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