Agora, no
escuro entre balcões e mercadorias, deito-me com fones nos ouvidos, a pistola à
altura das mãos. Quando acordar, investigarei, debaixo da camada de tártaro dos
dentes tortos da minha pequena notável, o nome. Não, melhor não procurar porra
nenhuma. Todas as mulheres, ao revelarem os nomes, abrem um dicionário de centopeias
carnívoras especializadas em degustação de desastres amorosos. Sim, nomes
lançam nexos, laços, algemas. Nomes exigem biografia e memória, apontam
tangências, confluências, margem mínima de afinidades. Nomes são feridas inscritas
em corpos de próteses e instantâneos com tintas tragicômicas. Nomes são
matilhas furiosas que me perseguem em filas de emprego e ocupações de sem-teto.
Alguns tiram fotos, mandam e-mails e torpedos, gostam de gafieira. Permaneçamos,
meu bem, indecifráveis anônimos vagabundos. A noite tem pernas curtas. Algum
nome secreto abre com estridência a porta da loja e, ao tentar reacendê-la no
grau cinza da rotina, pisa o meu pé esquerdo. Arma já bem guardada na cintura,
levantei-me incontinente. A situação era absurda. Felizmente não havia
explicações. Minha musa-manequim esculpida em
espanto no interior de magazine muquirana, diva no meio de bugigangas chinesas
e paraguaias. Era o meu paraíso: o reino de notas frias, de cédulas falsas, de
mulheres chaves de cadeia, de minha subliteratura.
Nomes? Há quem os troque... E, assim, deixam de carregar entulhos por outros depositados...
ResponderExcluirAbraço, Célia.