Trabalho de Jarek Kubicki |
Seus
olhos instalaram um alfabeto estranho em meu destino. Outro DNA invadia meu
organismo. Os braços pareciam imantizados ao dorso da desconhecida, o tórax
inflado, as mãos energizadas e mais largas, a pulseira metálica do relógio
arrebentou-se no pulso, o corpo mais pesado e cinco centímetros mais alto. Tudo era estranheza e turbulência. Quando
virei a cabeça para ver quem acabava de ultrapassar o limiar da porta, bochechas maiores do que as de Dizzy Gillespie começaram a
insultar a pequena escrava. Da garganta apoplética do comerciante saíam
fileiras de nomes sujos. Raspavam a
gosma do farto bigode, banhavam-se em perdigotos e cheques sem fundos, batiam
no estuque falho do teto para desabarem
na pele tão clara de minha doce desconhecida, em cujas veias eu podia ver
pedras e peixes no fundo. A mudez de minha manequim feria a cláusula x do contrato; na falta de açoites, uma semana
sem pagamento, corte de vale-refeição e auxílio-transporte. O troglodita suava
em bicas sobre o teclado em que redigia multa e fundamentações. Processo por
perdas e danos. Indignação de ópera bufa com a loja transformada na casa da mãe
joana. Não vacilei. Peguei a pistola,
apontei para o cofre incrustado naquela testa lustrosa, disposto a estourar-lhe
os miolos.
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