Egon Schiele |
Vieram as mulheres de
Jerusalém para enxertar na minha pele devastada toda uma fome de bestas sem
apocalipse, sem memória. Toalhas de linho sobre o criado-mudo e potes de barro
ao pé da cama, as loucas de véu azul revezavam-se em fogo e fúria, excitadas
com nacos de músculos e nervos entre os dentes de ouro. Com mãos gordurosas
limpavam o excesso, depois usavam as próprias túnicas para extrair pequenos
pedaços de vísceras entre os dedos viciados na solidão do sexo nas colinas. Aos
risos e entoando palavras desconhecidas, jogavam em cestos de vime grandes flocos
de algodão doce de sangue. Em meio à sofreguidão dos monossílabos do gozo, um
nome soou acima dos lençóis rasgados pela luxúria, e era o teu nome flutuando
em sílabas enlaçadas à memória da tua carne em noites de frio. Ao ouvi-lo as
mulheres murcharam arroxeadas, as pedras de anéis presos à avidez das mãos
perderam o brilho, todos os véus caíram ao chão,
contaminando de melancolia vestes lavadas em lágrimas, esperma e sangue. A mais
louca paralisou interminável felatio
para cuspir maldições pelas dezenas de cáries da boca, os olhos fuzilando
crimes. Saíram em bando, as almas insaciáveis sumiram como farrapos ambulantes
muito além das cortinas do sonho. Sim, possuo apenas um nome para o amor, e é
teu ainda mais quanto te ausentas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário