Egon Schiele |
O amor talvez fugisse ao se abrir
um guarda-chuva enquanto a cabeça, virada à esquerda, pensava em travessias. O amor faria bater artérias,
portas e janelas, lançando-as do batente ao deserto? Faria cessar a névoa do
existir às cegas, entronizando no vácuo uma claridade talvez insuportável,
brilho paralisante em frestas pelas quais o vento invadia a câmara mortuária
onde os sonhos? Se falhos e incompletos, se lacunosos e obsoletos, como a
tentativa de domínio sobre natureza diversa da nossa ou sobre aqueles que
brotam de nossa urgência e abandono? Onde a possibilidade de circular entre
vultos que nos escapam a tardes ensolaradas, lábios que recuam ao primeiro
sinal de tangência? O arrepio, no entanto, levantava suspeitas sobre o
incontrolável movimento da pele: sístole e diástole, narinas dilatadas, a
pressão sanguínea em alta. Impossível saber o que habita o outro lado, apenas mergulho kamikaze como impulso.
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