Não cair pela segunda vez, mesmo
que íngreme demônio o caminho à tua pele estendida no alto de tantos
desencontros. O desejo e seus antigos afluentes latejam nas têmporas correntezas
sanguíneas, pressão em alfa, tonta navegação armilar nos polos cranianos. Todos
os líquidos corporais operam prodígios no campo magnético dos olhos, injetando-lhes
uma luz alaranjada que alimenta cães selvagens na penumbra de seios à espera de
ossos e areia. O sopro oriundo de cofres internos devasta espera e amplia ao
infinito o som da abertura do zíper, enquanto o mover-se inquieto das mãos, impuro
balé tateando maciez e manhã em peles rasuradas de hiatos e perdas, em teus pelos
úmidos, em teus ocos, acende luzes de emergência entre as coxas. O tempo
líquido, um mar anterior ao mundo, faz a armada ora levitar, ora ir ao fundo,
mas todas as naus resistem completas à intensa travessia. As marés da carne, o
enroscar-se de caramujos, a hibridez de rocha e esponja, tudo respira instante
e eternidade. Alargar e contrair luas e pêndulos cravados na loucura mútua. Na
ausência de centro, apenas alternância, ritmo, dança erótica; movimentos
centrifugo e centrípeto. Corpos cerzidos, emendas afetivas, rascunhos amorosos,
males da alma, tudo se evapora. Despidos de nós, o que somos vige exatamente
agora quando gozamos estrelas de igual grandeza.
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