Querem que eu dance
mas me
tranco
me fecho em copas
me guardo numa estufa de granadas
querem que engula a pílula de letargia
e me abra à
maravilha de milagres
mas estou preso aos meus mortos
não comungo nem
resmungo
vivo nos
subterrâneos abaixo do ócio
tecido por meus músculos
bordado
na minha carne
querem que cante
mas desafino
é
preciso meu amor
é preciso desaprumar
este ar sempre
me deixou desarvorado
cataléptico
encafifado
califa dos guetos da
Baixada Fluminense
neste mar anônimo
vejo as caravelas marcadas do jogo
Senhores versus Servos
homens
e estrume
sob as botas do
mandarim dos latifúndios
sei do cerco
quase-louco morto-quase
a raposa astuta sempre impiedosa
a truta divina entregue a dentes
gananciosos
a triste dama testemunha tímida e passiva
sou o cérebro eletrocutado
sem
raciocínios circulares
minhas mãos
constroem o mundo
mas já não estou ligando
ligado
muito obrigado
hoje
é um bom dia para se ir a Búzios
porém o ar é pesado
tão e tanto
que os homens andam arqueados
ao peso de
vozes crescendo ao longe
ao peso de
vozes crescendo ao longe
ao peso de
vozes crescendo ao longe
18.10.76
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