segunda-feira, 6 de maio de 2013

Terceira incursão à carne

Egon Schiele



Entra-se por qualquer porta escancarada, penumbra fora de perímetro. Às vezes se volta de mãos vazias e com a alma morta. Sempre se alcança, no entanto, ao se erguer os pés além da entrada, mais que porta, nimbo fora de qualquer teologia, bunker de tijolos aveludados isolado no tempo.  Por que maciez, champagne e seda? Por que tantos espelhos e excesso de vermelho nas cortinas? E esse olhar falsificando atração, memória e gula? E essa indumentária incomum sobre a qual repousam aparelhos mecânicos e pílulas para performances guinnessianas? E a boca, sim, a boca, a boca esplêndida e viciosa, a boca, atelier da carne, centro de efeitos efêmeros que escapam ao provisório, aos prazeres-zumbis que se recusam à morte mesmo confinados a poucos segundos. A boca que já não diz por que inventa, a boca esponjosa cuja cegueira arremessa urgência nas paredes. 


Um comentário:

  1. Só restam 'mãos vazias e almas mortas' no escurecer de vidas...
    Abraço, Célia.

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