A loja do outro lado
da rua já estava fechada; aberta, escancarada, imensa cratera pulsando errância
na alma. Espremida em algum vagão de metrô minha vendedora-manequim flutuava
exausta, o calor sufocante ameaçava derreter seu corpo de cera. Ciça vegetava,
possuída por decepção e antidepressivos. A lânguida luz de um poste inclinado me
convidava a infindáveis copos. Resisti à pressão do passado nas têmporas, uma
dormência subia pelas artérias alagadas de pesadelos, instalava-se nos buracos
de décadas em branco. Ao microscópio meus atos pulavam semelhantes a amebas sem
futuro. Tudo era pulverescência, caos, pesadelo. Sabia-me arquiteto de ruínas.
Sem arrependimentos e remorsos. Tudo o
que precisava era acionar com êxito os mecanismos que me catapultassem a novos
desastres. Nada melhor do que a escrita para afundar-me por inteiro.
Fui ler hoje suas prosas aqui com mais atenção. Estou gostando muito do desenrolar das histórias, da forma poética como vc as conta.
ResponderExcluirBeijo.