Hoje saí da piscina com
uma sensação estranha: uma corrente de ouro perdida pedia socorro no
fundo. Juro a você, não era minha, minha
só a solidão na água morna. Talvez o longo intervalo entre o último mergulho e
a volta nada olímpica tenha interferido na percepção de forma e fundo. Debaixo
de céu nublado, o sol não ousou refração, a luz em seu raio mais aceso. O que
habitava a água senão a impureza, a permanência de fungos e fantasmas imunes à
ablação de cenas e crimes antigos? A
falta de sua pele caramelada (sim, da sua pele de péssima pianista e ótima
comediante) fez da piscina um oceano, por isso minhas mãos alcançaram com
sofreguidão uma folha vadia arremessada por árvore provocante sobre os óculos
de mergulho; por um segundo senti a
pressão delicada daquele biquíni floral do verão passado sobre o seu nome tatuado na coxa esquerda. Que
sombra foi aquela que atravessou o fundo da piscina rachando todos os azulejos?
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