sexta-feira, 1 de março de 2013

O Rio é vermelho













Há tantos rios no Rio
que não sei qual comemorar.
Um rio clandestino,
ruínas de terreno baldio,
carniça,
área de prepotência,
extermínio e milícia. 
Um rio de arreglo,mineira,
extorsão,
horizontes obstruídos por empreiteiras,
jogo do bicho,
lavagem em samba e futebol,
dólares por baixo dos panos.
Um rio de marmitas no metrô,
x-tudo no trailer fora da lei,
UPP na favela,
bala perdida na janela.
Um rio quintal de monturo,
dormitório,
valão, entulho, falta de tudo.
Um rio que sabe
que o Rio cartão-postal
não é obra da natureza
mas apropriação do capital.

Invisível o rio real
- sangue e suor trabalhador
abatidos pela polícia,
abolidos pelas agências de notícias.

Não,
não vou celebrar
nenhuma data oficial.
Lego às autoridades
o láudano dos laudatórios.

O carioca não se rende;
ginga, dança, trepa, canta.

Os cariocas no céu,
o governo no chão.




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