Não que coubesse em palavras, via-se uma longa
trilha de cadáveres de significantes atrás de passos de suave ferocidade, mas
veio para falar sobre pântanos e icebergs. Algo que não ficara claro precisava
ser intensificado até ser alcançado o limite de obscuridade completa. Suas mãos
coreografavam uma dança negra e nervosa como se pudesse alargar hiatos e
reticências com o fogo de fonemas desconhecidos. Tudo o que não fora dito para
sempre petrificado, todas as possibilidades dissipadas em fendas. Nas listas
horizontais da saia, planetas saturninos fugiam a órbitas assassinas. O que ela
dizia logo caía espatifado em mil pedaços que escapuliam como baratas. De nada
adiantaria juntar os hieróglifos em papéis rasgados que fermentavam no chão. Um
manequim talvez guardasse mais elegância, ritmo, fluência, embora perdesse em
graça e eficácia. A sacerdotisa de Delfos não queria voltar para a ladeira do Leblon,
permanecia plantada em sapatos rosa, relógio Cartier dourado, bolsa Gucci
caramelada e duas sacolas repletas de
livros e material escolar. Não almejava vingança, apesar do ódio figadal. Tudo
era a natureza oracular soprando forte em seus cabelos.
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