Sentado na portaria do prédio de
conjugados à espera da trouxa de roupa jogada com insultos pela janela, vejo a
pequena comerciária varrer o chão da calçada em frente à loja de presentes do
outro lado da rua. Olha para todos os lados, talvez a mova vergonha de
conhecidos, talvez siga orientação do gordo fumador de cachimbo dono da loja e de
mil mercadorias (perfumes, bijuterias, empregadas). Os cabelos louros da
vendedora luziam ao sol até serem eclipsados por um ônibus parado entre nós.
Quando o veículo enfim se moveu, os cachos da pequena tornaram-se negros e a vassoura desaparecera. A vejo agora mais
magra e bem baixinha. Atravesso a rua para fugir à miopia. Toco as suas costas
para ver se ela era de verdade. Vira o rosto triste e sem beleza, ao se
arregalarem, os olhos dispersam uma grossa camada de poeira e desesperança. Sinto
que ela não pode me ver, está em pedaços, conformada a um corpo apenas por um
contrato de experiência, mãos trêmulas quase na porta do desemprego, retrato à
espera de carimbo. O senhor feudal vomita um nome. Meu pequeno e dócil manequim
de fibra de vidro desaparece do outro lado da vitrine.
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