Egon Schiele |
Desnudados por urgência, não reparamos a invasão
de outros perfumes pretéritos aquém dos espelhos que nos arremessavam ao teto. Mentiras
e gozos alheios permaneciam entre as paredes, fantasmas alongando excessos ao
tempo de permanência. Meu rosto na toalha macia filtrava a respiração da rua em
ablução ou batismo com o qual a pressa convertia-se em outro ritmo, sístole e
diástole, íncubo e súcubo, fôlego erótico para atravessar túnel noturno.
Bordadas na toalha com perfeição de fotografia as mãos de Verônica secavam
mágoas e acariciavam a barba tão rala (no desenho eu negava três vezes a
navalha sobre a bancada de aço inoxidável da pia). Um quarto sempre será
estreito para o amor quando se rompe o lacre das aparências, quando desaba a
blindagem de timidez e previsibilidade. Trouxemos de fora a tempestade, a
saliva em temperatura de lava, a oleosidade incontrolável da vulva, a intumescência
vergonhosa do pau saltando vexame na
calça xadrez, o movimento de nos tocar como se acendêssemos febre no
corpo inteiro. Então, arrancamos nacos de carne com as pontas dos dedos
lambuzadas de felicidade, fabricamos solda de suor e seivas, inventamos moluscos
bivalves, fístulas, dutos de perversão e santidade; abraçados em extremos tão
voláteis, vibrando em jorro em nossos dentros, levitamos nossos nomes,
desmanchando-os letra a letra lentamente sobre a cama incandescente que
trouxemos da rua em nossos pulsos.
Você pergunta "Será que é prosa?" ... Não! É fato!
ResponderExcluir[ ] Célia