segunda-feira, 23 de abril de 2012

O que uma tarde nublada me fez escrever




O nihilismo para o alto, um oxímoro, mas preciso flutuar. Não é minha deriva, embora tenha manchado a minha camisa e a curva do meu caminho. Mantenho a palavra com agá para ampliar a remissão ao nada. Na verdade, afundo para outros lados, talvez para cima. O nihilismo foi filosofia, hoje estampa camisetas, nobilita currículos, edulcora mercadorias e entrevistas de celebridades. Enfim, a codificação de zumbis, Nietzsche em versículos para epifanias inalcançáveis. O lugar para onde se vai sempre será o sem nome, pois inominável é qualquer horizonte, caso tal linha/fronteira ilógica exista. Meus tênis não suportam mais buscas originárias nem jornadas teleológicas.

Do quiasmo onde me engasgo em simetrias temporais (hoje é ontem : ontem é amanhã), desse eco onde me fundo, me perco e me projeto, vejo no anátema do pensamento uma coleção de fraturas abertas: necessário desossar a filosofia, expor a mudez dos fragmentos, desnudar as formas do provisório, explodir o chão dos aforismos. Ideias que se lancem além do nível da frase e teçam a teia da complexidade mais insana.

O super-homem trabalha como laranja para as grandes corporações. Se não há humanidade, não existe humano muito menos super-humano. A humanidade é tudo aquilo que abandonamos, os sonhos que perdemos, acumulados num projeto de irrealização, a progressiva desertificação do ser.

Por todo lado o novo começa por suas próprias cinzas. O homem-prótese nos assombra com o paraíso: beleza, saúde, inteligência, força. Nos diz, a pleno pulmões: - Todos os discursos morreram, apenas as palavras em pura enteléquia greco-clitoriana flutuam no mar aberto; como não podem se afundar nem se salvar, piscam os olhos para nós, maldosas, implorando modelo, teoria, poesia, corpo de linguagem.

sábado, 21 de abril de 2012

Posfácio
























José Antônio Cavalcanti


O gozo em seu jogo
dobra,
desdobra
o logro
até que sobra
do oco da obra
só o eco de um corpo,
suas sombras,
seus despojos.


Campo/reses















  José Antônio Cavalcanti


Os donos da terra
ceifaram com cifrões
gerações de camponeses
agora, no campo da invisibilidade,
sepultados no silêncio,
o mesmo que abafava
clamor, soluço e revolta.

O campo de chapéus
germinará novas cabeças.

Tanta semeadura,
tanta colheita,
um dia a vida se ajeita.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

NÃO HAI NEM KAI Nº SEI-LÁ



 
















   José Antônio Cavalcanti




 
A lua alta e nua

anula as sombras - no céu


gira luz redonda.

Racionulidade





















        José Antônio Cavalcanti






 
A rasa e rouca razão
 
a cada dia mais louca

 
solta caos e revolta

 
- nada perdoa ou poupa.