segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Livro de contos


Primavera dos Livros 2015


Fora de forma & outros foras


Voltei para avisar que vou lançar um livro novo.
Dessa vez são contos.
Fora de forma & outros foras,
publicado pela Editora Ibis Libris,
será lançado na
Primavera dos Livros
no Museu da República
Rua do Catete, 153 - Catete - Rio de Janeiro 
a partir das 18h





sábado, 21 de fevereiro de 2015

Estação de muda





Estação de muda

A poesia amanheceu
secando
as cordas vocais
como se as palavras
fossem
roupas no varal.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Camões













Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o Mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.




sábado, 6 de dezembro de 2014

Aonde foi Carol?














Aonde foi Carol
cachos de uvas
nos seios
e a chuva?
Aonde descalça
camisola de meias-luas
sem sombrinha
mas cheia de sombras?
Aonde foi Carol
após o terraço
após um torpedo
ampliar a miopia
de suas retinas tortas
e a porta da rua
aberta ao mau tempo?
Aonde foi Carol
que não volta
da rota de pesadelos
e a cama para sempre
desfeita?

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Relatório técnico de poema encontrado morto com três tiros no peito




* porta de entrada com sinais de rimas imperdoáveis
* pedaços de papel seda com rúcula e nervos pendurados no varal
* temas surrados e versões exaustas derramadas em bacias de latão
* acessórios para estados febris
* dicionário de palavras com ditongos instáveis e dentes cariados
* faturas vencidas sobre mesa de vidro partido da sala
* os tiros foram disparados da direita para a esquerda
* fatias do pão que o diabo amassou na cozinha / farelos de incerteza no piso
* fotossangrias com groselha em jarras do século passado
*sardas soltas de rosto desconhecido sobre o sofá verde musgo
* cocaína nas folhas falsas de livro de poemas de um tal Pasolini
* da cabeça do morto escorriam sílabas enviadas por celular
* membros do morto foram encontrados em todos os cômodos / alguns versos caíram em área do supermercado ao lado onde foram confundidos com  tíquetes de estacionamento
* o estado da vítima não permitiu apuração do sexo /usava roupas de homem e de mulher
* muito vermelho o poema morto
* análise das poucas linhas encontradas permite classificá-lo como “anarcoide poético com desvios líricos”
* não era pacifista nem violento / sua palavra arma de alta imprecisão



terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Baía das lobas marinhas
















derrame
de dedos e remos
ínsulas
istmos
línguas
aranhas em pelos pubianos
erguem em máxima intensidade
voo inflável
de nau oblonga
longo calado
tatuado no casco
“Ernestina, amor eterno”
desabam
todas as velas no oceano
esparramado na cama
azul
afundam lençóis
bordados com nomes extintos

Vênus insaciável
pernas abertas
a uma frota inteira


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Extermínio

Obra da artista islandesa Gudrun Vera Hjartardottir

























turnos
manhã
tarde
noite
ocupados

lotação
esgotada

futuro
no esgoto
se não sobra
uma gota de tempo
pra nada


terça-feira, 25 de novembro de 2014

Manada em branco

Trabalho do artista francês Jean Luc Cornec



















Manada
imóvel
caixas postais
ocupadas
todas as linhas
desativados
todos os ramais
toda ligação
incompleta
palavras em queda
não atravessam
o vácuo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Dissimulatio artis

Rony Bellinho

























infame pulga salta
de poema de John Donne
para pele opalina
sob a luz ocre de velho  vitral
o sol queima
todos os pecados da carne

de joelhos
com fervor desconhecido
meus olhos crescem
em direção ao ponto móvel
negro
a dançar diabólico
impossível
nas encostas de duas colinas
cônicas
que escapam
por brecha na blusa bege

sou todo devoção

sábado, 22 de novembro de 2014

Sucata




O que sobra
em pilhas
pátio afora
oxida palavras gastas.

A vida
fora de uso
vira entulho.

Tudo ilusão
de futuro;
o campo de escombros
alastra-se além muros,
esterco e monturo
convertem ruas
em rios de chorume.

No lixão da cidade
peste e passado se igualam.