segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Temporal




nuvensvaivéns
fla x flutu
          antes
da tormenta
ca
     ir
fora
violenta
          mente
: no campo alugado
às águas estivais
sobre
            nada
corpo
afo
       gado
entre calotas
mo
       fadas




domingo, 20 de outubro de 2013

Drag Quenga


















vivia
com um detetive
que a investigava
a fundo

dizem
que entrou numa fria
ou em coma alcoólico
quando o gigolô ingrato
levou seu último cachê
e o belo bigode ruivo
de estúpido michê
na moto zero km


Sem lugar

Trabalho de Nelson Leirner



























entre
estar
nem lá
nem cá

entre
abrir
voar
por aí



A dois passos de talvez





















A luz pisca
a intervalos
irregulags
nunca acerto
o tempo
sempre a interferência
de temporal
desvia
o devir
sete palmos abaixo


Ovelhas só ouvem hosanas















Cansado de ver cães
e carniças
extenuado em toda
a extensão
da fadiga

de voz de comando
desmandos
saem em perfeita sincronia
de guarda suíça

ouvidos roucos
a vida rouca
roucos de rivotril
todos os pássaros
nos fios
eletropachoques

a lâmina letal de parágrafos
só despeja penas
e condenados

abaixo de cinco salários mínimos
vale saco plástico

a letra da lei
em malas de dólares
na pista
do piloto suicidado

cansado
de gente tão culta
sussurrando “Cuidado!”
à entrada
da última sessão de cinema
oscaralhizado.

Haicai





Como canta a água
na chuva que lava e leva
laços entre nós!



Tanka




















A mulher que chora
alto no alpendre vazio
respira mais fundo;
o vento carrega rosas
no galope da lua cheia.


Haicai




O amor voa no vento.

Vã parede de papel,

logo letras mortas.


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Este poema entrou com a chuva pela janela do meu quarto



























Afundo
minha sombra
em pele úmida
acima do mar de tecidos
brancos
o sonho
de solos desconhecidos
abre todas as janelas
à direita
de quem não voltará
nunca mais.


terça-feira, 15 de outubro de 2013

Rosto apagado



























Riscado de rugas o rosto
despejado no espelho.
Aos poucos
todas as linhas se apagam
com o vapor d'água.
Depois
a toalha desbotada do tempo
vai retirar
todos os traços e destroços
de partículas de sonho estacionadas
em vagas
para palavras  insuficientes.


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A testemunha




























Alguém apagou-a
a mando de alguém.
Sem voz, sem prova,
ri a advogada do além,
a cova.
Silêncio, verdade refém.

Sete haicais sabáticos



























I

Quase Fukushima
chega em velhas ondas mortas
a outras costas.
II

O vento apagou
nome em papel amarelo.
Voa veloz o amor.

III


Saio de fininho
toda vez que você chega,
seu ego me cega.

IV


Abriu-se a rosa
cobiçada, mas os olhos
fechados, pensavam.

V


Com todas as letras
dizer “amor é naufrágio”
na cara do oceano.

VI


Folhas e beijos
voam nos braços do vento
azul do verão.

VII


Gastos galhos secos
se quebram quando se exaure
a seiva do amor.




Linha 2



























levar os sons
da feira da Pavuna
ao mar

logo
o celular fora de área
circular
as quatro estações
até que Vivaldi
desapareça na Central

vagões
cegos vagarosos
tateiam túneis
lotados
de amnésia e estupor


domingo, 6 de outubro de 2013

Faltam dois quilômetros para as duas horas

David Ho


























Só você
agora
me acenderia
no dia sombrio
que apaga
meu nome
na água fria.

Atenda, então,
o celular
e traga a noite
para apagar
minha sangria.

No verdadeiro apocalipse
o mundo acaba na caixa postal.