René Magritte |
José Antônio Cavalcanti
Ele vem antes do dilúvio,
cigarro e uísque em equilíbrio.
Diz “imperiosa reconfiguração”,
e mais “uma nova perspectiva”,
para acrescentar, exausto,
“um projeto para o século XXI”.
Carrega cidades nas costas,
mede distâncias e cargas,
olha à direita e à esquerda.
O olhar insone insiste:
“Precisamos fazer uma limpeza,
isso aqui está uma bagunça”.
Bela a camisa estampada ao vento
que insufla latitudes e meridianos
aos cabelos tingidos de espanto.
Belos seus pensamentos a barlavento:
supressão de pousos,
poda de portos e primaveras,
previsibilidade dos percursos.
Bela a luminosidade das palavras,
apesar de algumas lâmpadas queimadas:
priorizar, reciclar, operacionalizar, otimizar...
Gosto do seu olhar oceânico
a descerrar manhã e horizonte;
pura potência, puro encantamento,
a conversão de almas em moedas.
Na madrugada da última ilha antes de Ítaca,
esguio como um gato no tombadilho,
arremesso a humana maravilha ao mar.
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