sábado, 28 de maio de 2011

O EXTERMINADOR DE ILHAS

René Magritte
   

José Antônio Cavalcanti





Ele vem antes do dilúvio,

cigarro e uísque em equilíbrio.

Diz “imperiosa reconfiguração”,

e mais “uma nova perspectiva”,

para acrescentar, exausto,

“um projeto para o século XXI”.



Carrega cidades nas costas,

mede distâncias e cargas,

olha à direita e à esquerda.

O olhar insone insiste:

“Precisamos fazer uma limpeza,

isso aqui está uma bagunça”.



Bela a camisa estampada ao vento

que insufla latitudes e meridianos

aos cabelos tingidos de espanto.

Belos seus pensamentos a barlavento:

supressão de pousos,

poda de portos e primaveras,

previsibilidade dos percursos.

Bela a luminosidade das palavras,

apesar de algumas lâmpadas queimadas:

priorizar, reciclar, operacionalizar, otimizar...



Gosto do seu olhar oceânico

a descerrar manhã e horizonte;

pura potência, puro encantamento,

a conversão de almas em moedas.



Na madrugada da última ilha antes de Ítaca,

esguio como um gato no tombadilho,

arremesso a humana maravilha ao mar.

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