Este poema foi publicada na Revista Escrita, acho que em 1976 ou 1977. Reencontrei-o no jornal estudantil Chegou a Hora, publicado pelo DCE-UERJ, em setembro de 1979. Ainda hoje me agrada bastamte.
MARGEM
descarregar os socos reprimidos no vidro
partido
esquinas perdidas na noite irrequieta
a ronda
no escuro por trás dos edifícios
me roda
os círculos de fogo na mente alimentam
versos
incêndios no meu cabelo se alastram
à epiderme
nada se perde tudo se inventa sempre
e quando
não há engano sem reconstrução há crentes
eternizando enigmas sinais e códigos
no tempo
a vida dança na sombra próxima ao poste
a ambulância
ajuda a distância do sonho às minhas veias
além do véu mudo
os terrenos estão cheios de latas e caixas
tudo escuro
repressão no distintivo nas leis na impotência
é tudo um muro
sonhos revoando os dentes de um vampiro
o sangue eterno
o seu suicida e constante derramamento
em defesa
do banquete dos bancos das baionetas dos brutos
não desfaleço
teço a trama cruel dos fogos cruzados nas barricadas
e pontes
broto no ar de fumaça das chaminés das fábricas
chupando
a energia e a coragem dos operários despidos
nos pratos
vazios nas roupas sem bens nem vinténs marginais
das favelas
desço ao ventre de ouro e prata e ateio veneno
às poças d’água
não me importa o pé chutando os meus colhões
nem o cheiro
de urina entrando quente na minha boca
destruída
descarrego tudo o que levo e não me pertence
entrego
o ódio e a muralha de insensatez devolvo aos pares
do reino
crio lutas sangrentas entre criaturas disformes
o embate
entre a chuva que cai e a fumaça ascendendo
dum baseado
estrelado verde rubro sem amarelo azul brinquedo
me encho
os bolsos de drogas poemas canções y revoluções
a lata de lixo
enche-se de leite enquanto mãe-mendiga dorme
mais seus filhos
no chão em que todos pisam e escarram sem distinção
confundindo
os marginais e o chão
Insensível é o nosso ser diante dessa pintura humana realíssima!
ResponderExcluir[] Célia.