sexta-feira, 29 de junho de 2012

SONHO DE FORNO E FOGÃO




Este poema fez parte do livro Sopa & veneno, escrito por mim em 1976, que obteve menção honrosa no Concurso Nacional de Literatura promovida pela revista Escrita.


SONHO DE FORNO E FOGÃO

Maiakóvski surgiu numa noite esplend-rosa
e véio veio me pedir uma nota pruma boquinha
                              porra seu Maiakóvski os sovietes não te pagaram?
                                             já era meia-noite e Maiabrecht não estava
              pois se eu era o frade a benzer putas velhas
entoavam hinos sacros e lambiam o meu saco
         numa apoteose trópico-carnavalesca bem carioca
                                                   pois seu Bertoldo não tenho amigos
                todos se escafederam pelas fendas
                                 quando inventei uma cartilha conhecida

TODO  PODER  AO  FOGO

e pensavam que tivesse instintos anarquistas
                                ora bolas tudo não passava de uma questão culinária
sem as dimensões de numerosas questões
                                                     religiosas militares nordestinas
judaico-palestinas presos políticos menores abandonados
                                                      claro que todo poder ao fogo
é uma receita destinada aos bons gourmants
  na qual se coloca pimenta à vontade
                                              seu Maiakóvski não é que fiquei no Índex
        e os santos padres da Santíssima Inquisição
vieram condenar-me à fogueira
tão raivosos que nem esperaram São João
já falei pra eles mil vezes que não sou católico
puta merda pra que me queimar
                            se o tempero de vocês não combina com a minha carne?

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