Este poema fez parte do livro Sopa & veneno, escrito por mim em 1976, que obteve menção honrosa no Concurso Nacional de Literatura promovida pela revista Escrita.
SONHO DE FORNO E FOGÃO
Maiakóvski surgiu numa noite esplend-rosa
e véio veio me pedir uma nota pruma boquinha
porra
seu Maiakóvski os sovietes não te pagaram?
já
era meia-noite e Maiabrecht não estava
pois se eu era o
frade a benzer putas velhas
entoavam hinos sacros e lambiam o meu saco
numa apoteose trópico-carnavalesca bem
carioca
pois seu Bertoldo não tenho amigos
todos se
escafederam pelas fendas
quando
inventei uma cartilha conhecida
TODO PODER AO
FOGO
e pensavam que tivesse instintos anarquistas
ora bolas tudo
não passava de uma questão culinária
sem as dimensões de numerosas questões
religiosas militares nordestinas
judaico-palestinas presos políticos menores abandonados
claro que todo poder ao fogo
é uma receita destinada aos bons gourmants
na qual se coloca pimenta à
vontade
seu
Maiakóvski não é que fiquei no Índex
e os santos padres da
Santíssima Inquisição
vieram condenar-me à fogueira
tão raivosos que nem esperaram São João
já falei pra eles mil vezes que não sou católico
puta merda pra que me queimar
se o
tempero de vocês não combina com a minha carne?
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