Sacava uma maçã da bolsa como se
estivesse sedenta de vingança e precisasse encontrar com urgência punhal
justiceiro. Enquanto retirava o papel alumínio, eu tratava de me sentar no
lugar mais próximo da invisibilidade para não desabar. Ria como se tivesse
ouvido a história mais hilária do mundo, a maçã já completamente exposta.
Mordia o fruto edênico com olhos fechados de prazer criminoso. O vermelho da
casca realçava dentes de predadora cravados na polpa macia e suculenta. Inexplicável
transferência quebrava, então, as leis da física, o vermelho saía da maçã para se
infiltrar nos meus olhos, páginas famintas abertas em pânico, do outro lado da
mesa, antes que o sinal anunciasse o fim do recreio. Levaria quinze minutos para
saber o que fazer na sala de aula.
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