quarta-feira, 18 de junho de 2014

Memorabilia





Sacava uma maçã da bolsa como se estivesse sedenta de vingança e precisasse encontrar com urgência punhal justiceiro. Enquanto retirava o papel alumínio, eu tratava de me sentar no lugar mais próximo da invisibilidade para não desabar. Ria como se tivesse ouvido a história mais hilária do mundo, a maçã já completamente exposta. Mordia o fruto edênico com olhos fechados de prazer criminoso. O vermelho da casca realçava dentes de predadora cravados na polpa macia e suculenta. Inexplicável transferência quebrava, então, as leis da física, o vermelho saía da maçã para se infiltrar nos meus olhos, páginas famintas abertas em pânico, do outro lado da mesa, antes que o sinal anunciasse o fim do recreio. Levaria quinze minutos para saber o que fazer na sala de aula.


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