terça-feira, 8 de julho de 2014

Antes que a chuva caia

Manabu Mabe
















A última porta
ainda não foi aberta
(talvez atrás dela
outras à espera)
mas algo expirou
à tarde
antes que nuvens
preparassem a mesa
para a tempestade
não mais a atenção
acurada
a apetitosa obediência
à carne verbalizada
impulsiva
despido de concentração
em nichos vazios
sem os botões da camisa
sem os sapatos de deriva
existencial
os cadarços em nós
apertados no pescoço
das questões essenciais
sem os dentes da poesia
na polpa suculenta do nada
sento-me à margem
da ferrovia
onde trabalhei 24 anos
o corpo oxidado
velho vagão vagabundo
sento-me exausto
de falhas e quimeras
fecho os olhos chamuscados
de ironia e pesadelos
começo a cantar
única maneira
de seguir em frente
quando as pernas já não se movem mais.


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