quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Nota





Pensei em escrever um poema tomando por base uma expressão evanescente de longínqua aula de inglês - "a plastic spider". A professora sentada, minha adolescência em febre escorrendo nas pernas generosamente cruzadas do vestido tubinho azul celeste. Eram frases sobre presentes. Pura redundância a quem já havia sido abastecido para noite insone. Obtuso como poucos, recusei-me ao exercício. Aranhas de plástico não existem. Nenhuma aranha sem mobilidade. A aranha sem expectativa não é aranha, apenas mosca morta. Para que oito pernas, se não chega a Minas? Uma aranha precisa viver à espreita. Pulsa forte o coração de aranha?

Eram as minhas frases no caderno (ainda existiam cadernos e neles alguma coisa era escrita sempre de forma errada). Noite adentro, no entanto, outras aranhas me sacudiam inteiro em teias invisíveis. E é assim que os poemas desacontecem.



Nenhum comentário:

Postar um comentário