O ônibus deu voltas
incontáveis
por isso cheguei
tarde demais
ao ponto extremo da
estrada.
Todos os loucos
já foram liberados.
A Colônia Juliano Moreira
agora um bairro:
condomínios,
comunidades
e a Transolímpica
cortando veias verdes.
Começou a ventar forte
agora,
talvez espíritos seculares
convençam a segurança
de que não represento
ameaça.
Podemos conversar
sem gestos nervosos nas
armas.
Sei que todos estão
ocupados,
Minha mãe com 38º de febre,
há dias internada,
não ouve o que digo.
O médico só chegará
depois da chuva.
A enfermeira,
com um frasco de soro nas
mãos
e uma dúzia de diminutivos
escorrendo pelo batom
escarlate,
afirma ser inútil aguardá-lo,
preciso seguir em frente,
antes que a tempestade caia.
Depois se cala
quando lhe digo
que vivo internado
em lugares onde nunca estou
e dos quais nunca consigo
sair.
Ri, meio assustada,
apesar da delicadeza na voz:
“Se você viesse há décadas
não sairia,
mas agora não há vagas”.
Rio, 26/09/2014 – Colônia Juliano
Moreira
Que reflexão mudamente tocante! "vivo internado / em lugares onde nunca estou / e dos quais nunca consigo sair."
ResponderExcluirAbraço.