quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

ERRÂNCIA


Rné Magritte



















                       José Antônio Cavalcanti


A indiferença,
país de olhar longínquo,
ao meu incandescente caminho
na fímbria,
na fresta
entre o teatro do mundo
e as águas submersas,
é em ti dádiva divina,
uma cruel cicatriz nas cinzas
dos teus olhos imperiais.

Aparta de meus dedos
as cordas do teu corpo,
cruel domadora de desejos.

Estilhaças insurreições da carne
com correntes e métodos.
Podes, então, voltar ao livro
de capa verde sobre a mesa escura,
abri-lo em página inexistente,
embriagar-te com teu verso favorito,
pleno de delícias e sobressaltos,
que nenhum poeta ainda ousou escrever.

Coabitamos um tempo
em perpétuo desmoronamento.
Podes, amor, desabar
toda a fúria sobre a minha pele
em pânico, sobre a tela vazia do meu rosto
em curto, sobre as palavras plasmadas
em perda, em pedra, em pó.

Que a tua passagem em minha órbita
seja sempre o universo que me consome!
Que sempre voltes o teu olhar para o outro lado do abismo!

O fingimento é a mútua pronúncia
em nossos lábios
do que sobrou da palavra amor .


7 comentários:

  1. Um espetáculo! Me dá prazer ler os teus escritos, a leitura flui... Parabéns pela tua arte!

    beijos e uma ótima tarde!

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  2. Impecável seu texto e muito carregado de sentimentos! Gostei imensamente de teu Blog. Voltarei sempre, para aprender um pouco mais sobre a arte de escrever bem. Abraços!

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  3. Excelente!! uma amorosidade perfeita!

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  4. Esse poema me arrebata, Poeta! As imagens e o sumo dos significados encantam pela sonoridade e delicadeza brusca da intensidade, da entrega. O título já abastece de beleza o que virá; belas opções vocálicas. Obrigada pelo aviso: há poesia nessa nau. Estejamos próximos, frequentemos nossos blogs e vamos nessa negação e afirmação do fazer poético, encontrando nossos chãos errantes, nossos livros. Sejamos cúmplices!

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  5. Gostei muito quando vc escreve sobre o abismo entre duas pessoas. Assim mesmo me parece... cada um com suas idiossincrasias. É nesse perpétuo desmoronamento que as relações se tansformam. Por que? Tem que ser assim? E a felicidade, onde fica? Lindo poema.

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