René Magritte |
A noite,
em silêncio,
secou a tarde
estendida na rua.
Descerro os olhos
e desenho ausências
na calçada da página.
Em sala sombria,
sem acesso a teu corpo selvagem,
observo a muda passagem de cometas
sem cauda,
sem coroa,
sem brilho.
Deixam um sulco invisível
à sombra de estrelas inclementes.
Dou adeuses às palavras
que emergem atônitas
do centro da página.
Revoltadas, me indagam:
- realidade ou pesadelo?
Invento evasivas
com um pássaro de azul e açúcar
no olhar.
Engesso sentimentos
em clichês de nonsense.
Ah, exímio artesão de coisas mortas!
As palavras zombam do meu estro.
Atiram-me vírgulas e acentos.
Dizem-me pilhérias,
impropérios.
Rancorosas,
roubam-me a caneta
e se escrevem.
As palavras que roubam a caneta e escrevem, delineiam nossa vida. Somos a imagem das palavras que falamos, escrevemos, Belo poema! Iara.
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