terça-feira, 29 de março de 2011

CESSOU A CHUVA

René Magritte



















A noite,

em silêncio,

secou a tarde

estendida na rua.


Descerro os olhos

e desenho ausências

na calçada da página.


Em sala sombria,

sem acesso a teu corpo selvagem,

observo a muda passagem de cometas

sem cauda,

sem coroa,

sem brilho.

Deixam um sulco invisível

à sombra de estrelas inclementes.


Dou adeuses às palavras

que emergem atônitas

do centro da página.

Revoltadas, me indagam:

- realidade ou pesadelo?


Invento evasivas

com um pássaro de azul e açúcar

no olhar.

Engesso sentimentos

em clichês de nonsense.

Ah, exímio artesão de coisas mortas!


As palavras zombam do meu estro.

Atiram-me vírgulas e acentos.

Dizem-me pilhérias,

impropérios.


Rancorosas,

roubam-me a caneta

e se escrevem.

Um comentário:

  1. As palavras que roubam a caneta e escrevem, delineiam nossa vida. Somos a imagem das palavras que falamos, escrevemos, Belo poema! Iara.

    ResponderExcluir