José Antônio Cavalcanti
Ela segurava
em pose sibilina e solene
(como uma gravura
capta
em placa de madeira, metal ou pedra
o gesto que escapa)
a xícara de chá
- serigrafia viperina do momento
em que o pulso se paralisa
tocado pela graça da anima feminina.
A fumaça exalava
o meu corpo convertido em fantasma
por ruína, pânico ou arrefecimento.
Ao vê-la
eu era o vilão,
olhar caviloso
cruel
canalha
corpo de cão
cravando a carne
em grades.
Eis que algo escapa
a mínimo domínio:
misterioso mimo,
o dedo mindinho
se liberta da asa;
flutua no ar
a mulher agora anjo.
Sucumbimo-nos diante da beleza humana. Sentimentos afloram-se e se perdem na imensidão da sensualidade. A morte, não deixa de ser o eterno encontro com a beleza restauradora!
ResponderExcluirAbraço, Célia.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirObrigado,Celia. Fiquei mais de trinta anos com uma imagem na cabeça; no hall da faculdade onde eu estudava - UERJ - uma mulher belíssima tomava um cafezinho com uma graça extraordinaria, o dedo mindinho escapava da xicara como se indicasse um prodígio no ar. A visão deliciosa fixou-se para sempre na minha memória, mas só agora consegui transformá-la em poesia com a certeza que não chega nem perto de reproduzir a magia daquele momento.
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