sábado, 25 de fevereiro de 2012

A vingança dos persas





A VINGANÇA DOS PERSAS



       O que esperamos na ágora reunidos? 
                           - Konstantinos Kaváfis



Vão-se os navios gregos
abarrotados de moedas cunhadas
nas saias de Medeias mortas.

Tebas, Atenas, Corinto,
estiradas em mesas de cassinos,
fecharam as sete portas de bronze.
Agora shoppings agonizam
Agamenons e Ariadnes.

Padece a paideia no labirinto
de novos persas.

Ifigênia e Ajax em transe,
Homero arremessa o escudo de Aquiles
contra os bancos de extermínio,
de sangue,
de crime.

Nem Diotima de Mantineia sonharia
revelar a Sócrates profecias de tamanha barbárie.

Helicópteros patrulham Micenas,
e Midas já mandou as suas milícias
de cães e répteis contra Hércules.

Efebos deserdam fábulas,
lanças caídas em filas de desemprego,
elmos abandonados,
cavalos cravados de facas e cifrões.

Édipo, Orestes e Jocasta
veem Jasão navegar para o abismo.

Já não há Atlântida
e as muralhas da honra e da ousadia
desmoronaram em dívidas.

Oh, Zeus, insufla a revolta nos lares,
ateia fogo aos tesouros,
destrona a cabeça dos soberanos
cínicos e carniceiros.

Que heróis anônimos tomem as ruas de assalto
e que das assembleias surja o sonho de cidades livres.

5 comentários:

  1. Para quem teve uma educação humanista, como eu - fiz "clássico" no Pedro II - ver as faixas, que gritam por direitos e justiça, com a língua grega que tão idealistamente estudei, é mesmo assustador. Todos os velhos sonhos estão indo abaixo. Hoje, a gente que também estudou história, vê aqueles países, voltarem à cena, agora num processo anti-histórico. E não é uma reestruturação cultural,sadia, que seria sempre bem-vinda. O império é muito mais atroz do que o romano. Os bárbaros são muito mais bárbaros do que antes. O pior é que, por trás das grandes civilizações, ainda continua a existir o indivíduo, o pobre, inculto, e miserável indivíduo.
    Louvo o poema, que traz, tão literariamente, a reflexão sobre sua época. Metaforizar é o que nos resta.
    Eliane F.C.Lima

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  2. Oi, Zé Antônio.
    Não sei como você me encontrou, mas obrigada pelo convite para conhecer seu blog, curti muito. Voltarei aqui mais vezes. Desculpe minha ignorância em muitos assuntos, adorei sua poesia mesmo sem conhecimento profundo sobre mitologia, deuses e impérios. O vídeo, também poético, me lembrou o filme Fitzcarraldo, ao qual assisti tempos atrás. Fiquei impressionada com as margens do rio sem mata ciliar... Ah, as civilizações... Temos um longo caminho a percorrer ainda, não? Salve os heróis anônimos do asfalto e dos paralelepípedos!

    Saudações guaxupenses,

    Sheila

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  3. Assim como a Sheila, eu não sei como você me encontrou. Fiquei simplesmente encantada com você diz aqui e me sinto lisonjeada que tenha me concedido esse presente que é lê-lo.

    um beijo, e até mais

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  4. Parabéns, poeta. Belíssima reunião de mundos distantes e distintos. La nave va...

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