Gravura de Iberê Camargo |
saíam
para o trabalho os dois pombinhos plastificados os dias flagraram novos ângulos
da tentação agora de costas saias sapatos bolsas vestidos de grife ele de
abre-alas segurando a bicicleta era o guia que transformava músculos em
garantia de posse de um terreno agora em disputa sairia à cata de propriedades
alheias limpando a cidade de excessos à mulher o vizinho odioso ofereceria uma
agenda de encontros suspeitos com sorriso canalha no rosto mal desenhado enorme
mossa na face direita o galo no lado esquerdo da testa brilhava de satisfação
ao exibir tanto poder mas tanta segurança não o impedia de voltar a cabeça para
o alto da escada antes de bater a porta nem de largar o guidão apertar braços desatentos
e despedir-se com beijo cinematográfico verdadeiro certificado de propriedade não
escapavam ao meu olhar 48 degraus abaixo rasuras e parágrafos subterrâneos
confusos no fundo dos olhos em estado de alarme da intrusa que viera devastar a
minha vida
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