terça-feira, 20 de maio de 2014

Palavra velada




















"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o ser, muda-se a confiança; / Todo o Mundo é composto de mudança, / Tomando sempre novas qualidades", escreveu o moderníssimo Camões. Os poemas também, não se assuste velho amante de Dinamene, podem cair fora do inalterável. Isso é o que nós, invisíveis poetas subaquáticos, fazemos o tempo todo. Aliás, é uma das vantagens de se viver abaixo da linha do horizonte: assim ou assado o silêncio sempre será o mesmo. Tudo isso porque resolvi alterar o último verso deste poema.


Palavra velada
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Antes que venha a invasão noturna
e levante as veias fora da pele,
antes que os cílios caiam em coma
e o coração se negue sete vezes,
antes que os dedos cortados ensaiem
a volta ao vórtice da mão esquerda,
a palavra encravada na garganta
soletrará todas as sílabas do silêncio.


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