quinta-feira, 28 de abril de 2011

O INCRIADO

Eu não sou este corpo, 2003, Deise Marin




















     





  José Antônio Cavalcanti 



 

Antes houvesse fundado
uma tribo de bárbaros.
Assim saberia o sabor
de incontáveis calamidades,
ouviria ossos assobiando agonias
entre tendas destruídas
e cupins de inútil mobília.

Insensato,
habitou entre demônios e ratos.
Vasculhou fendas invisíveis
no vasto e vulnerável horizonte.
Não navegou margens mallarmaicas
nem em homéricos mares naufragou
suas palavras malsãs e lunares.
Uma vulgaridade absurda gotejava
de sílabas em pânico,
contaminava
- no chão poças de Vallejo, Khlébnikov,
Drummond, Montale
e um imóvel Brodsky -
a água impura dos poemas.

De tanto inventar-se, um outro
tomou-o por inteiro.
Nada sobrou
em pele ou cofre noturnos,
a não ser metáforas anacrônicas
em um caos digitalizado.


8 comentários:

  1. Todos somos partículas, híbridos, resultado de uma "miscigenação" inevitável que não será, forçosamente, negativa.

    Um beijo

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  2. Boa poesia, José Antônio. Gostei daqui.

    Abraço grande.

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  3. Hola Jose Antonio, lei tus poemas y me gustaron mucho. Te felicito muy buena pagina,
    te sigo y te invito a la mia. Si bien es de todo un poco puede que algo te interese, gracias y bienvenido Maira.
    http://menteurbana-mairabel.blogspot.com

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  4. Olá poeta!
    Muito bonito seu blog e bela sua poesia!
    Que bela adaptação de invasões quando diz:
    "De tanto inventar-se, um outro
    tomou-o por inteiro.
    Nada sobrou
    em pele ou cofre noturnos,
    a não ser metáforas anacrônicas
    em um caos digitalizado".

    Abraços
    Ana

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  5. Ao Poeta,
    José Antonio,
    Suas palavras são de gosto e paladar, que se cria a parte elemental de todo ser, você não apenas escreve no papel as simples palavras que estas aparecem, e sim as escreves com a alma.
    O abraço ao irmão de letras,
    Carlos Vanilla

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  6. Gostei muito. Agora te sigo. Abraços.

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  7. saludos, poeta me agrada su metáfora.

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  8. O que te toma por inteiro,
    ou melhor te bebe,
    é a mais ébria poesia.

    Muito prazer conhecer a sua casa. Muito honrada.
    Andrea

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