domingo, 31 de julho de 2011

DESACONTECIMENTO

Vladimir Kush


    















  




 

       José Antônio Cavalcanti


Até então
se podia
seguir
na contramão
do mesmo
ou a esmo.

Havia
vidas fora do
ar,
em vias de rumo
qualquer;
câncer de avidez
em vidros-galerias.
Talvez naufrágio,
talvez poesia.

Pouco a pouco
os gestos gotejam abstratos
como zeros gastos
ou carros abandonados
em fuga.

Sem caminho
na cidade,
sem espessura,
volume,
densidade,
o mundo se desloca,
o eixo da Terra muda.

Tudo se turva,
tudo se nubla,
tudo se apaga,
agora,
com a faca da sua ausência  
cravada na garganta.


3 comentários:

  1. A imagem me instigou a ler esses versos de pura imaginação!

    Um beijo imenso!

    ResponderExcluir
  2. Muito lindo este poema!
    Abraço,
    Cristina Macedo

    ResponderExcluir
  3. Teca e Cris, só hoje li os comentarios. A imagem é do incrível pintor russo Vladimir Kush (esqueci de dar o crédito).
    É sempre bom saber que aquilo que nos atinge também é capaz de alcançar, por outros e misteriosos caminhos, a "escuta" do outra lado da página ou tela.

    ResponderExcluir