segunda-feira, 11 de março de 2013

Forma e fundo





Hoje saí da piscina com uma sensação estranha: uma corrente de ouro perdida pedia socorro no fundo.  Juro a você, não era minha, minha só a solidão na água morna. Talvez o longo intervalo entre o último mergulho e a volta nada olímpica tenha interferido na percepção de forma e fundo. Debaixo de céu nublado, o sol não ousou refração, a luz em seu raio mais aceso. O que habitava a água senão a impureza, a permanência de fungos e fantasmas imunes à ablação de cenas e crimes antigos?  A falta de sua pele caramelada (sim, da sua pele de péssima pianista e ótima comediante) fez da piscina um oceano, por isso minhas mãos alcançaram com sofreguidão uma folha vadia arremessada por árvore provocante sobre os óculos de mergulho; por um segundo senti  a pressão delicada daquele biquíni floral do verão passado sobre  o seu nome tatuado na coxa esquerda. Que sombra foi aquela que atravessou o fundo da piscina rachando todos os azulejos? 

Nenhum comentário:

Postar um comentário