sábado, 23 de março de 2013

Um, dois, três, mil Carandirus

As cabeças do bando de Lampião foram exibidas por autoridades brasileiras em diversos estados do país. Mortos em 1938, só em 1969 o governo permitiu o enterro das cabeças de Lampião e Maria Bonita.


Para abrir as páginas da pacificação feita à bala. Compulsar capítulos de orelhas cortadas como prova de batalha vencida. Ler com a alma em frangalhos o livro invisível das vítimas de chacinas, confrontá-lo com os perdigotos discursivos daqueles que nos asseguram "índole pacífica", "paraíso nos trópicos", "cordialidade luso-barroca". Um índice apócrifo avisa leitor amorfo do país potência, insere-o na coleção dourada da civilização. Certamente difícil consultar as fotos apagadas, conhecer os nomes dos anônimos executados em periferias e córregos. 


Pacificação parece ser o nome da espada, da pistola, da metralha, da autoridade de mãos sangrentas lavadas e relavadas em discursos de sanguessugas piedosas nos quais a ética boia à semelhança de fezes.


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