sábado, 5 de novembro de 2011

Coyta

Francis Bacon


      José Antônio Cavalcanti


morder a carne e roer o osso do infernamor em contramão DANGER SOS
pelas palatais avenidas salivas excreção de glândulas exceção de
nomes números códigos cifras alfabetos sinais signos cibalenas sais
tempero do sofrimento palavras cadeia de letras discurso-prisão
masmorra-mãe do linear e do padrão que a morfologia aplaude lógica
patrão do sentido esparzindo punições a quem desrima razão e nome
amor vocábulo substantivo inativo adjetivo do nada pronome vadio
substituindo fantasmas o pseudo o não-classe na traiçoeira linguagem
lexema inacessível construção fria léxico sabor zero signo cigano
a matemática dos sentimentos a geometria da vida poética do nada
a palavra alavanca do sentido desossada sub/traída de sua máscara
amor – pode uma palavra? amor – pode um nome? amor expressão do vazio
pois se amor ser da língua por que amor é fuga abandono orgulho
e feita a conta porque o produto é lixo sangria cegueira entulho?
substituto do substantivo pronome ou quase-nome quase-verbo
logos inconcluso logos alógico sideral configuração da forma
ser no ventre do tempo metafísica criatura abstração romântica
amor onde se esconde onde aonde se movimenta quando se verbaliza?
como verbo amar se o amor não passa não anda não muda não pulsa?
amor somatório fonético de nulidades amor hipótese absurda
amor prepositivo ligação de duas criaturas aéreas e inumanas
soma de zeros acúmulo de erros doença trigonometria hipotenusa
amor sem sinônimo quase antônimo de morte proximidade afônica
amor apoteose do tropeço tiro no ouvido pancada no coração
veneno punhal revólver espadafiada dívida porre abandono medo
amor sem dicionário sem dedicatórias sem delicadeza sem desejo
metalamor sofreamar silenciamar morreamar duvidamar amor/talhar

amor
           tece
                      dor?
 

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