quinta-feira, 22 de março de 2012

Páginas da zona de sombra





VII


Na lateral de uma ponte polonesa, cadeados antecipam blindagem e ocultamento. Selo metálico de crimes e segredos, multiplicados, parecem expor a cidade como campo de gestos clandestinos, como se todas as ruas fossem linhas de invisibilidade. O que se guarda é suposto bem precioso: a carta encardida de confissões assustadoras, o dinheiro desviado, as telas roubadas pelos nazistas, os diamantes contrabandeados do Brasil, o ouro sul-africano, joias falsas, talismãs mexicanos, brinquedos do tempo irrecuperável, testamentos para demandas entre herdeiros, instruções criptografadas, segredos industriais ou amorosos, croquis de agências bancárias para futuro assalto, números cabalísticos. Invento uma possibilidade não cartografada: os cadeados são construídos para aprisionar os espíritos. Testemunhas insolentes e silenciosas da nossa insignificância, injetam paranoia em olhares mortos e simulam posse e poder sobre cinzas. Instalados nas costas dos homens curvos, segregam um visgo alaranjado de almas enferrujadas, dessas que se corroem em interiores, celas, cômodos secretos, porões, sótãos, masmorras, condomínios blindados, cercas, muros, muralhas, salas, cofres, covis, encaixotadas pelo medo e pela indiferença. Cadeados não escondem nada, apenas expõem o lado pantanoso de nossas sombras. 

Um comentário:

  1. é... bem primitivo isso aí, hem...até parece os ' ' que inventaram esse código de segurança que se tem que digitar para o comentário ser admitido na blogosfera rsrs aiai coisa quase ininteligível e nao serve pra nada porque quem quer enfiar um spam o faz na maior paciência.Mas respeito quem o usa, apenas, acho ser um quê inútil. bjuuu

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