René Magritte |
VIII
Isso é um teste, um texto, um resto. Isso é, são, foi, foram os, as. Palidez de palavras na página porque as sílabas não captam. Ex, quase, talvez ou nunca, os sentidos escapam pelos túneis semânticos do precário. Todos os signos, isso: areia movediça, pântano, entulho, a traição dos espelhos, insignificância. Especulação a escrita. Fluxo, continuum, duração bergsoniana em que se esboroa a experiência. Sintaxe de desgaste, esquizofrenia da linguagem. Rasura e falha, o texto desenha a camuflagem para a impossibilidade da fala. Excesso de poréns, concessivas em remendos, temporais do instantâneo, causas sem consequência e vício-versa. Todas as sentenças são relativas, isto é, poeira radioativa de significados flutuantes e invisíveis. De tecer, carimbam especialistas, a origem. O texto, entre tantos, é onde o mundo acontece e todas as páginas são, simultaneamente, formas de desaparecimento. Isso não é um teste, sequer um texto, nem há nada que preste, por isso poesia é imprestável, toda arte é manifestação de imprestância. Isso não é, e isso é tudo que é possível ser. Acontecer vem do latim *contigescere, var. de *contingescere, incoativo de *contigère, do lat. contingère 'atingir, chegar a; encontrar; resultar de'. Não obstante, ninguém escreve para encontrar a, o, se. Toda palavra é o som e a grafia da perda. Não capturar significados, dissipar-se, doar-se, acender a queda como dêitico da liberdade.
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