sábado, 10 de agosto de 2013

Décima-terceira incursão à carne

Goya


Não há, depois da fermentação dos órgãos, da sutura dos tecidos, ponto de restauração de ossos e certezas. Nenhum fio materno virá redimir, ao amparar o corpo extinto, anos de barbárie no pântano. Vê: há certa beleza geométrica na floração de máculas espalhadas como semáforos por uma superfície já inavegável. E os olhos? Observe as cenas submersas pulsando atrás das pálpebras inchadas: mãe abandonada em plantões hospitalares, pano, balde e rodo em sanitários infestados de pestilência; mãe de noites estendidas em pânico quando o filho conduzia uma gangue de hirsutos em farrapos pelas ruas do bairro apóstata; mãe em apneia escrita em livro de ocorrências paranormais: peixes multiplicados por asfixia na cortina d’água, x9 ressuscitado para clandestina execução sumária, putas inscritas em liturgia pornoangelical, cegos que se amplificaram em câncer e surdez. Janelas fechadas à passagem de anódino cortejo, portas trancadas a pavor pleno, crianças nos cômodos mais fundos. Vê: eis o morto em ângulo sólido. Não, não é o dedo médio que lavra insultos a sacerdotes-eunucos. Algo se monumentaliza por causa da pressão hidrostática causada por ingurgitamento venoso, o pau insurgente de Prometu, a curvatura do corpo cavernoso atira mitos, nódulos e coágulos contra a eternidade. Príapo de volta aos braços maternos.  

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